Dilma Rousseff cumprimenta população na Paraíba: aproximação das eleições de 2014 evidencia mudanças no jeito de governar da presidente (Roberto Stuckert Filho/PR)
Da Redação
Publicado em 8 de março de 2013 às 14h20.
São Paulo – A presidente Dilma Rousseff tem dado sinais nos últimos meses que já não é a mesma mulher que assumiu o comando do país, há mais de dois anos, entre elogios pelo estilo duro - que se contrapunha ao antecessor, Lula - e críticas de aliados por falta de traquejo político.
A dureza na hora de negociar com funcionários públicos grevistas, a demissão de inúmeros ministros acusados de corrupção e um voto desfavorável ao Irã na ONU fizeram Dilma ganhar elogios na imprensa, até mesmo da oposição.
Os enaltecimentos miravam as diferenças entre Lula e Dilma. Enquanto o ex-metalúrgico era visto como essencialmente político, a nova presidente aparecia como alguém que adorava gerenciar e tinha pouco apreço à politicagem.
Mas as evidências agora são de que a mulher que ocupa hoje o Planalto é, ao menos em parte, mais atenta às concessões para manter poder.
“É parte de um processo de amadurecimento politico”, afirma o cientista político do Insper, Humberto Dantas. “Esse processo, porém, não deixa de contemplar a eleição”, completa o professor.
No Dia Internacional da Mulher, confira quatro sinais de que a Dilma de hoje é diferente da Dilma de ontem.
1) Combate aberto com FHC
Foi uma surpresa quando, na festa de homenagem dos 80 anos de Fernando Henrique Cardoso, Dilma lhe enviou um bilhete que pode ser considerado afetuoso, chamando o ex-mandatário de o “presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica”, ressaltando que havia muito nele a “homenagear”.
A atitude de Dilma foi considerada republicana, com visão menos curta que as impostas pelas disputas partidárias. FHC se disse muito feliz e falou em “conciliação”.
Tal cenário, no entanto, parece ter se desfeito. Na última declaração sobre o governo tucano, ao lado de Lula para comemorar os 10 anos do PT no poder, na semana passada, o teor era outro.
"Nós não herdamos nada. Nós construímos”, disse a presidente. FHC rebateu e a chamou de “ingrata”
É um sinal de que 2014, com PT X PSDB, já está aí.
2) Aproximação com as centrais sindicais
O canal de interlocução direto entre Planalto e centrais sindicais, realidade no governo Lula, foi desfeito nos dois primeiros anos da presidente Dilma. Ela preferia delegar estes encontros à Gilberto Carvalho, Secretário-Geral da Presidência.
Mas as evidências mostram que isso mudou, por esforço atribuído a Lula, em parte.
O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, até então crítico à Dilma, se disse “encantado” ao sair de um encontro na semana passada. Recentemente, ela teve também reunião com Vagner Freitas, da Central Única dos Trabalhadores (CUT)
Por último, na quarta-feira, Dilma teve uma audiência com dirigentes destas e de outras centrais, como CGTB e Força Sindical, depois de uma grande marcha realizada em Brasília.
“Essa antecipação da campanha acaba levando a presidente a tomar essas posturas de aproximação com setores a que era mais refratária, mas que o PT e outros grupos têm ligação histórica”, afirma Maria do Socorro Braga, cientista política da Universidade Federal de São Carlos.
3) Mais receptiva aos aliados
Já faz algum tempo, a “nova” Dilma tem apresentado maior desenvoltura nas reuniões e almoços com políticos aliados. Ou melhor, sabe da necessidade de manter diálogo com estes grupos.
O aprendizado veio logo em 2011, quando houve desgaste com partidos ao demitir parte dos ministros sem muitas negociações. Foi neste ano também que ela sofreu algumas derrotas no Congresso, dentre as quais o Código Florestal.
“Ela recebeu o PR recentemente, e disse que vai colocar o partido em uma possível reforma ministerial. Ela também se mostra disposta a conversar com o PDT, que não entende Brizola Neto (ministro do Trabalho) como representante real do partido”, atesta Humberto Dantas, do Insper.
O fato é que as críticas nos corredores do Congresso parecem ter minguado em relação ao início da gestão Dilma.
4) Está pronta para falar
Dilma está mais disposta a falar das conquistas do seu governo. Segundo O Estado de S. Paulo, a fórmula será copiar o modelo definido por Lula de manter contato direto com veículos de mídias regionais.
Em visita à Paraíba, ela rompeu com um jejum de quase um ano sem entrevistas a rádios e conversou com emissoras que são retransmitidas para boa parte do estado. Isso deve continuar.