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36% dos moradores de favela sofrem de ansiedade, revela pesquisa

Pesquisa feita pela ONG Gerando Falcões, em parceria com o Instituto Locomotiva e apoio do Grupo +Unidos, mostra que a ansiedade nas favelas é quatro vezes superior a taxa brasileira

Paraisópolis, em São Paulo: 18 milhões de pessoas vivem em favelas no Brasil. (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

Paraisópolis, em São Paulo: 18 milhões de pessoas vivem em favelas no Brasil. (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 9 de maio de 2021 às 08h30.

Última atualização em 13 de maio de 2021 às 14h15.

A pandemia de covid-19 agravou ainda mais um problema que afeta muitos brasileiros: a ansiedade. Pesquisa feita pela ONG Gerando Falcões, em parceria com o Instituto Locomotiva e apoio do Grupo +Unidos, mostra que 36% das pessoas que vivem em favelas brasileiras sofrem de ansiedade. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que o Brasil é o país mais ansioso do mundo, com 19 milhões de pessoas com o transtorno, o que dá cerca de 9% da população. Ou seja, a situação nas favelas está muito acima da média nacional.

A pesquisa, a qual EXAME teve acesso com exclusividade, foi feita com 2.939 pessoas acima de 16 anos em 13 estados brasileiros entre os meses de setembro de 2020 e fevereiro de 2021. A maior parte das entrevistas foi feita de forma presencial, para entender melhor a realidade onde as pessoas vivem.

(Gerando Falcões / Instituto Locomotiva/Divulgação)

Na avaliação de Edu Lyra, fundador da Gerando Falcões, essa situação é devastadora em um momento de perda de renda - 78% dos moradores de favela viram a renda encolher na pandemia - e com o acesso precário aos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Um outro dado da pesquisa mostra que apesar de 85% afirmarem que existe atendimento de saúde no bairro, 25% o avaliam como ruim ou péssimo.

“90% da população de favela não tem plano de saúde. A falta de acesso a saúde de qualidade aumenta a vulnerabilidade social. Se a gente terminasse a pandemia hoje, voltaria dez degraus. A saúde mental está abalada, ninguém está feliz em viver de doação, com a insegurança econômica e social. Isso tem um efeito psicológico devastador na cabeça das pessoas”, diz Edu Lyra, que trabalha em quase 700 favelas espalhadas pelo país.

(Gerando Falcões / Instituto Locomotiva/Divulgação)

E a situação de ansiedade é pior no grupo de mulheres e pessoas com renda de até um salário mínimo. Nessas duas faixas, mais de 50% afirmam que estão preocupadas com a saúde mental.

A pesquisa ainda avaliou como o encarceramento de familiares impacta na vida dos moradores de favela. Entre os entrevistados, 51% declararam que conhecem pessoas com algum parente preso. Na parcela de pessoas que afirmaram ter algum familiar encarcerado, 41% disseram que já foram vítimas de preconceito por isso.

(Gerando Falcões / Instituto Locomotiva/Divulgação)

“A maior parte da favela está desestimulada de que a mudança pode ser sistêmica. Eles não acreditam que a transformação vai vir das organizações institucionais. O meu maior foco e esforço é o projeto Favela 3D que  estamos fazendo uma intervenção sistêmica: interromper o ciclo de pobreza daquela região, com capacitação profissional, geração de renda, e emancipação”, afirma Edu Lyra.

O projeto está em fase de implementação em uma favela de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Lyra explica que tudo é feito em parceria com a prefeitura, governo do estado de São Paulo, e a iniciativa privada. Com o auxílio do empresário Jorge Paulo Lemann, grande amigo de Edu Lyra, foram levantados 15 milhões de reais, 90% do valor necessário para executar os dois anos e meio do projeto.

"Essa pesquisa mostra que o coronavírus atinge principalmente os mais pobres, aumentando ainda mais a vulnerabilidade social. A Gerando Falcões tem uma série de ações nas favelas, de políticas públicas para mandar a favela para o museu. A gente precisava de dados e informações", explica Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva. 

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