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3 blefes do discurso de Romero Jucá no Senado

Após a revelação de gravações em que tenta frear a Lava Jato, parlamentar deixou o ministério do Planejamento, voltou ao mandato no Congresso e discursou

Romero Jucá, do PMDB: senador foi um dos principais articuladores de Temer para que se obtivessem os votos necessários para o afastamento. Logo, suas ações tiveram o objetivo de frear a Lava Jato (Antonio Cruz/ABR)

Romero Jucá, do PMDB: senador foi um dos principais articuladores de Temer para que se obtivessem os votos necessários para o afastamento. Logo, suas ações tiveram o objetivo de frear a Lava Jato (Antonio Cruz/ABR)

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Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2016 às 22h08.

Última atualização em 29 de maio de 2017 às 16h38.

“A minha conversa com o ex-senador Sérgio Machado é uma conversa que tenho tido pela imprensa. O que eu disse ao senador Sérgio Machado eu disse nas páginas amarelas da Veja, na IstoÉ, na revista Época, tenho dito a jornalistas e em discurso no plenário.”

As gravações das conversas do senador Romero Jucá (PMDB-RR) com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, reveladas pela Folha de S.Paulo, mostram uma tentativa do parlamentar de frear as investigações da Operação Lava Jato. Os trechos publicados não deixam margem a diferentes interpretações, como insinua Jucá.

Nas entrevistas dadas a Veja, IstoÉ ou à revista Época, o senador não revelou as mesmas preocupações em nenhum momento. Logo, não se trata da mesma conversa que ele tem tido pela imprensa ou no plenário do Senado Federal.

A reportagem da Folha aponta a preocupação de Jucá em mudar o governo para estancar a “sangria” provocada pela Lava Jato.

“Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”, disse o ex-ministro do Planejamento do presidente interino Michel Temer. No diálogo, ele conta que conversou com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e militares sobre o assunto, que poderia ser resolvido com o impeachment de Dilma Rousseff.

“[Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.”

E manifestou o medo de que outras pessoas da classe política fossem envolvidos na operação. “Todo mundo [está] na bandeja para ser comido.”

Publicamente, a fala de Jucá era outra. Em outubro, em entrevista às Páginas Amarelas da Veja, Jucá teve postura completamente diferente.

“Tenho algum temor nessa questão da Lava Jato? Nenhum temor”, disse à repórter Thais Oyama. No plenário, em discurso no dia 5 de abril, Jucá também apoiou as investigações: “O PMDB apoia a investigação da Lava Jato e entende que todos devam ser investigados.” Para a revista Época, o peemedebista voltou a dizer recentemente que seu partido defendia as investigações.

“A Lava Jato é fundamental, o PMDB apoia, quer que as ações se desenrolem o mais rapidamente possível.” Na IstoÉ, a mensagem foi parecida, mas também incluiu um pedido para que as investigações fossem aceleradas: “O governo Temer vai apoiar a Lava Jato. Queremos rapidez na operação. Não dá para ficar uma nuvem negra sobre todos os políticos do Brasil. Independentemente de ter ou não culpa. Está todo mundo sob desconfiança.”

“Não fiz nenhuma ação para impedir a investigação da Lava Jato.”

Não é o que está nas gravações reveladas pela Folha de S.Paulo. Os áudios mostram que Jucá acreditava que aprovar o impeachment da presidente Dilma Rousseff era a melhor saída para estancar a investigação, qualificada como uma “sangria”.

O senador foi um dos principais articuladores de Temer para que se obtivessem os votos necessários para o afastamento. Logo, suas ações tiveram o objetivo de frear a Lava Jato.

Em um dos áudios, ele afirma não ver outra opção para resolver a crise política. “Tem que ter impeachment. Não tem saída”, disse, na conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

“Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?”, declarou, em outro trecho.

Jucá disse que essa também era a opinião de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e que militares teriam dito a ele que o impeachment poderia ocorrer sem problemas. Machado afirma que a solução seria um governo Temer, que faria um acordo nacional envolvendo até mesmo o STF para impedir o andamento da operação. “É. Delimitava onde está, pronto”, respondeu o senador.

“O que a Folha de S.Paulo fez foi dar uma interpretação errônea às minhas palavras.”

Os áudios das conversas entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado não deixam margem para interpretações errôneas.

Isso porque o parlamentar dá claramente as suas opiniões sobre a Operação Lava Jato, que considera algo problemático e que precisa terminar – uma “sangria” que precisa ser estancada.

Na segunda-feira (23), Jucá tentou se defender, dizendo que ao falar de se “sangria” estava se referindo à crise econômica. Também afirmou que não confiava no autor da reportagem, o jornalista Rubens Valente, ou no veículo que havia publicado o texto, a Folha de S.Paulo. Pouco tempo depois, a Folha publicou trechos na íntegra da conversa, que mostram que o contexto para o uso do termo era, sim, de tentar encerrar a Lava Jato.

Jucá chega a dizer que o juiz Sérgio Moro criou uma Torre de Londres. “Mandava o coitado pra lá para o cara confessar”, afirmou. Também está preocupado com as delações premiadas que podem ser firmadas por empreiteiras e com as consequências disso.

“Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo, e a Odebrecht, vão fazer. (…) Seletiva, mas vai fazer.”

Texto cedido pela Agência Pública.

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