(Exame/Divulgação)
Repórter
Publicado em 10 de dezembro de 2024 às 15h48.
Última atualização em 12 de dezembro de 2024 às 10h42.
Com a concessão da rodovia Nova Raposo, na região metropolitana de São Paulo, o executivo da Ecovias planeja 2025 como o "ano do free flow". A afirmação é de Afrânio Lany Spolador Jr., diretor de Tecnologia e Inovação na EcoRodovias,
"Ano que vem especialmente para a gente é um ano bastante importante, tem o ano da Nova Raposo, com bastante tecnologia sendo implementada. Sem dúvida será o ano do free flow no país, não só pela EcoRodovias, mas pelas outras concessões também", disse disse o executivo nesta terça-feira, 10, durante o Fórum Infraestrutura Cidades e Investimento, da EXAME.
A tecnologia do free flow, ou fluxo livre, recentemente autorizada em território nacional pela Lei nº 14.157/2021, está revolucionando o transporte rodoviário de cargas e frotas no Brasil.
Embora seja uma novidade por aqui, o free flow já é amplamente utilizado em outros países como China, Estados Unidos, Portugal e Chile.
Segundo Afrânio, o free flow traz fluidez. "Vai melhorar a fiscalização, vai ajudar o estado na evasão fiscal, porque você vai conseguir melhorar essa eficiência da cadeia logística como um todo. Conectividade, sem dúvida, é a base para tudo isso", afirmou.
No painel, também se discutiu o efeito da ampliação do acesso à internet nas rodovias brasileiras sobre o desenvolvimento de municípios. Segundo Afrânio, um exemplo são os números do projeto Ecovias do Araguaia, que integra estradas de Tocantins a Goiás.
A concessionária é responsável por administrar e operar 851 quilômetros das rodovias BR-153/TO/GO e BR-080/414/GO, entre Aliança do Tocantins e Anápolis, uma das principais ligações entre o Meio-Norte e o Centro-Sul do país. Em parceria com a operadora de telecomunicações TIM, a Ecovias implementou torres ao longo de 15 meses que levaram a conectividade em 4G na região.
Com a implementação, além do sinal na rodovia, pelo menos 28 municípios foram beneficiados, incluindo 88 escolas públicas e 50 postos de saúde, segundo Spolador.
"O efeito de desenvolvimento que se leva é maior do que o Call Box, muito maior do que o próprio Wi-Fi. Você tem conectividade para os serviços, para pedir socorro. Estamos conseguindo, inclusive, monitorar e prevenir efeitos diante dos desastres naturais por conta das mudanças climáticas", explica.
Dados do Ministério das Comunicações mostram uma ampliação dos serviços de conectividade. Dos 5,57 mil municípios brasileiros, 3.283 têm faixa disponível para estações 5G standalone – a versão mais avançada de infraestrutura para receber a quinta geração de redes móveis.
No entanto, em audiência no Senado, em agosto do ano passado, o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Carlos Manuel Baigorri, apontou que quase um terço das rodovias brasileiras não tem qualquer tipo de cobertura de internet.
O Brasil dispõe de 121.837 quilômetros de rodovias ao todo, com a parcela sem cobertura de internet equivalente a 37.991 quilômetros.
Alexandre Dal Forno, diretor de desenvolvimento de Mercado IoT & 5G da TIM no Brasil observou que a geografia do país é de fato desafiadora para o plano de conectividade nas rodovias. Segundo o executivo, isso torna difícil uma conexão em 100% das estradas.
"Mas existe uma obrigação da concessionária de prestar esse serviço. E temos de aproveitar essa oportunidade", afirmou durante o Fórum.
As empresas vêm trabalhando junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para garantir ajustes. Entre eles, foi possível, por exemplo, substituir o termo Wi-Fi, que constavam de forma explícita nos contratos, por wireless. O que, segundo Dal Forno, traz "ganhos na operação" e segurança jurídica.
"Tem ‘n’ oportunidades para a gente conseguir junto com a ANTT, a Artesp [agência reguladora do estado de São Paulo], mostrar que a conectividade móvel pode ser o habilitador da transformação do setor de concessão de rodovias", afirmou.
Segundo ele, a TIM trabalha em dois grandes pilares do país. "O primeiro é o agro, que é 30% do PIB brasileiro, e o agro não roda sem infraestrutura, dentro da porteira até a rodovia. Estamos trabalhando na cadeia completa do agronegócio e das exportações do Brasil", disse.
Na ponta da segurança jurídica, ainda há muitos desafios, avaliou Renan Marcondes Facchinatto, sócio do Dal Pozzo Advogados.
"[O contrato] tem de medir o resultado, não o caminho que usará. Essa é a nossa grande virada de chave no mundo jurídico. O governo tem de dizer qual é o nível de força do sinal, não a quantidade de torres", justificou.
Facchinatto também acrescenta que em projetos, como o de levar conectividade às rodovias, exigem um trabalho conjunto dos atores privados com os órgãos públicos.
"O BNDES está investindo recursos para estudar cidades inteligentes e conectadas. [Precisamos] cada vez menos de barreiras regulatórias e mais necessidade de fazer políticas juntos", afirma.
A expectativa dos especialistas é que o próximo ano seja o ano das concessões. Apenas por parte do governo federal, são pelo menos sete projetos previstos em rodoviais com um capital de investimento de R$ 150 bilhões.