Apoio:
A disputa para financiar máquinas agrícolas na Agrishow (Mariana Grilli/Exame)
Repórter de Agro
Publicado em 3 de maio de 2023 às 09h29.
Última atualização em 4 de maio de 2023 às 21h17.
RIBEIRÃO PRETO (SP) - Andar pelas avenidas da Agrishow é uma oportunidade para reparar no apetite dos produtores por tecnologia. Mulheres e homens conversam sobre o tamanho das máquinas agrícolas, tiram dúvidas sobre agricultura de precisão e, se possível, fecham acordos e aquisições. Para esta roda girar, antes, os empresários rurais estão indo aos bancos checar as condições de financiamento para a safra 2023/2024.
Francisco Matturro, presidente da Agrishow e ex-secretário de Agricultura de São Paulo, afirma que na feira há todos os perfis de produtores. Desde os mais independentes, cujo capital de giro já é fonte de pagamento, até aqueles mais conservadores, que preferem esperar pelo anúncio do Plano Safra para tomar crédito. Para diferentes clientes, distintas oportunidades.
Quer saber mais sobre o agronegócio? Assine gratuitamente a newsletter EXAME AGRO
A exemplo da atratividade dos bancos comerciais, o Santander fechou R$ 200 milhões em apenas cinco horas de Agrishow, ainda na segunda-feira, 1. Segundo Ricardo França, superintendente regional de negócios do banco, os visitantes encontram linha de taxa pós-fixada, baseada no BNDES, além de um modelo de consórcio estruturado a uma taxa de 11,25% para operações fechadas em até 92 meses. Com isso, o Santander deseja encerrar a semana da Agrishow com R$ 2 bilhões negociados.
“Como não tem taxa subsidiada e igual para todos, cada banco está fazendo seus juros. Por isso, a gente tem trazido os produtores ao estande antes de eles fazerem simulação [de financiamento nas montadoras]”, afirma França.
O Santander opera com 300 gerentes dedicados ao agronegócio ao redor do Brasil, com previsão de alcançar uma carteira da ordem de R$ 50 bilhões até o final de 2023.
As cooperativas de crédito, muito presentes pelos corredores da Agrishow. também têm papel relevante na composição da oferta de financiamento. Nomes como Sicoob, Sicredi, Coopercitrus, entre outras integrantes do Organização Brasileira de Cooperativas (OCB), estampam condições de crédito diretamente nas fabricantes de máquinas agrícolas.
“São muitas fontes de financiamento ao produtor, incluindo os bancos de crédito cooperativo, que vêm crescendo. As cooperativas são menores, têm atendimento mais olho no olho e isso segue tendo importância ao produtor”, afirma Francisco Matturro.
Um levantamento do Climate Policy Initiative (CPI/ PUC-Rio) e Observatório de Cooperativas da USP aponta que o crédito cooperativo está presente em cerca de 2.500 municípios do Brasil, com presença massiva no interior.
“Ele ajuda a compensar a escassez de agências bancárias em algumas regiões e auxilia no cumprimento da exigibilidade de aplicação de recursos do crédito rural”, afirma trecho do estudo.
Houve um crescimento real de 51,3% no crédito das cooperativas em 2018/2019 na relação com o ano agrícola 2013/2014, para R$ 33 bilhões, fazendo com que o market share agregado desse segmento, no período, aumentasse de 11% para 17,5%. Considerando o número de contratos, a participação das cooperativas também aumentou nesses anos, chegando a 18,5% em 2018/2019.
Para Luis Felli, líder global da Massey Ferguson, a conjuntura entre maior volume da safra de grãos, redução dos custos de fertilizantes e o câmbio mais próximo dos R$ 5 conspira a favor do produtor.
Ele diz que o produtor tem a oportunidade de fechar negócio na feira com juros de 12,5% a.a., mesma condição do Financiamento de Máquinas e Equipamentos (Finame/BNDES) do ano passado.
“O produtor que vendeu a soja esse ano, acho que ele vai às compras. Mas tem produtor que vendeu pouca soja, esse vai aguardar para ver o que vai acontecer, há mais chances de esperar até o anúncio do Plano Safra 2023/2024 para tentar acessar o Finame”, afirma.
Segundo ele, a expectativa de crescimento do setor é de 2% a 4% , ainda que as linhas de financiamento tenham esgotado antes mesmo do calendário-safra e do Plano Safra terminarem.
A Massey Ferguson pertence ao grupo da fabricante AGCO -- cujas marcas incluem Valtra e Fendt –, que é dona do banco AGCO Finance. O produtor pode optar por linhas de crédito com taxas pré-fixadas e pós-fixadas, em reais e moeda estrangeira.
Segundo a fabricante, é possível financiar até 100% do valor da máquina agrícola, com o vencimento das parcelas atrelado à safra e disponibilidade de crédito o ano todo, independentemente do Plano Safra e sem vínculo ao BNDES.
A AGCO também anunciou, na Agrishow, investimento de R$ 340 milhões nas fábricas do Brasil, incluindo todas as marcas. Outros R$ 660 milhões serão investidos pelos concessionários da Fendt para expansão da marca no País.
É como se dinheiro começasse a dar em árvore. Com taxas de 11,99% para produtores rurais que tenham área de reserva legal maior que a estabelecida pela legislação brasileira, a John Deere apresenta na Agrishow a linha de financiamento “Preserva Bio”.
Além de ser necessário o excedente de reserva em relação à exigência do Código Florestal, a depender de cada bioma, nenhuma pendência ambiental é tolerada.
De acordo com Alex Ferreira, diretor de crédito do Banco John Deere, se no momento de avaliar critérios socioambientais houver alguma pendência, o banco não disponibiliza o crédito. Sem árvore, sem dinheiro. Ainda assim, a proposta é fornecer um checklist para incentivar que o agricultor se regularize.
“Estamos disponibilizando o Check-in Rural. Em uma tela, o produtor poderá ver toda a situação da área relacionada a normativas e regulamentos. Os pontos que estiverem em vermelho são críticos e precisam ser ajustados para conseguir esse crédito”, diz.
Ele ainda afirma que só é possível chegar aos 11,99% pois a condição é subsidiada entre o banco, a fabricante e as redes de concessionárias, todas sob o guarda-chuva da marca John Deere. Segundo Ferreira, esta foi uma forma da fabricante incentivar a agricultura sustentável dentro do setor de máquinas e implementos.