Apoio:
As chuvas em todo o país podem ficar até 10% abaixo da média nesta temporada de monções (Edwin Remsberg/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 4 de julho de 2023 às 16h31.
A Tailândia prepara planos de contingência para enfrentar uma possível seca que pode durar anos e reduzir a oferta global de açúcar e arroz.
As chuvas em todo o país podem ficar até 10% abaixo da média nesta temporada de monções, e o início do fenômeno climático El Niño tende a reduzir ainda mais as precipitações nos próximos dois anos, de acordo com autoridades do governo. A Tailândia pode enfrentar condições de seca generalizada a partir do início de 2024, alertaram.
O cenário desafiador levou autoridades tailandesas a pedir aos agricultores que limitem o plantio de arroz a uma única safra para economizar água, e produtores de açúcar esperam queda da produção pela primeira vez em três anos. Uma seca certamente vai acelerar a inflação no país do Sudeste Asiático, já que o custo de verduras, alimentos in natura e carne sobe com a redução das colheitas e ração mais cara.
O primeiro-ministro da Tailândia, Prayuth Chan-Ocha, pediu à concessionária estatal Autoridade Geradora de Eletricidade e ao Escritório de Recursos Hídricos Naturais para ajudar a elaborar planos de contingência para economizar água. No acumulado de 2023, as chuvas do país estão 28% abaixo do mesmo período do ano passado, segundo dados oficiais.
O El Niño pode levar a condições mais secas em partes da Ásia e da África e a fortes chuvas na América do Sul, danificando uma ampla gama de culturas no mundo todo. Os El Niños anteriores resultaram em um impacto marcante na inflação global e atingiram o PIB em países como Brasil, Índia e Austrália.
A Tailândia busca estimular uma recuperação do crescimento econômico, que já enfrenta os obstáculos da desaceleração na China, o maior parceiro comercial do país, e uma seca prolongada poderia prejudicar os esforços para manter a inflação sob controle. A Tailândia já enfrentou calor recorde este ano.
“O El Niño representará uma preocupação maior para o crescimento do que a inflação”, disse Euben Paracuelles, analista da Nomura. “A Tailândia é um grande exportador de alimentos, com apenas metade da produção total consumida internamente. Portanto, os amortecedores podem ajudar a limitar o impacto da inflação no curto prazo, juntamente com os controles de preços e subsídios do governo”.
Se o El Niño se agravar, pode cortar 0,2 ponto percentual do PIB este ano, porque as condições de seca podem coincidir com a produção sazonal no segundo semestre, especialmente de arroz, disse Paracuelles. O banco central prevê que a Tailândia vai registrar crescimento do PIB de 3,6% este ano comparado a 2,6% em 2022.
A demanda por energia na Tailândia atingiu recorde em abril, quando algumas regiões registraram altas temperaturas, obrigando empresas e residências a aumentar o uso de ar-condicionado para aliviar o calor.
O maior impacto global das chuvas abaixo da média na Tailândia afetará culturas como açúcar e borracha e pode até ameaçar a posição do país como o segundo maior fornecedor mundial de arroz. Os embarques caíram um terço, para 7,6 milhões de toneladas em 2019, o primeiro ano do El Niño anterior.
A cana-de-açúcar é uma cultura robusta, mas as usinas do país preveem um declínio da produção. Isso reduzirá a oferta para o mercado mundial e pode elevar ainda mais os preços do açúcar refinado, que oscilam perto da máxima em uma década.
O país produziu cerca de 11 milhões de toneladas de açúcar na temporada 2022-23, e a estimativa é de que cerca de 80% da produção tenha sido exportada.
A falta de esforços de mitigação de longo prazo da Tailândia para lidar com inundações e secas provavelmente vai agravar o impacto do clima extremo no país, de acordo com o Banco Mundial.
“A frequência de inundações e secas, e o alto custo humano e econômico associado a elas, tornam a adaptação à mudança climática e a gestão da água importantes na Tailândia”, disse Fabrizio Zarcone, gerente nacional do Banco Mundial para a Tailândia. “É necessária uma estrutura mais robusta que priorize o planejamento de mitigação de riscos, investindo em infraestrutura de recursos hídricos e gerenciando o uso da terra e da água.”