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O agro está na mira das fintechs, o que permite ao produtor acessar novas fontes de financiamento e estreitar relações com a iniciativa privada (Divulgação/Divulgação)
Repórter de Agro
Publicado em 15 de fevereiro de 2023 às 19h28.
Última atualização em 15 de fevereiro de 2023 às 19h53.
Financiar a agricultura de baixo carbono passou a ser tarefa dentro e fora da porteira, conforme avaliação de executivos durante o painel na CEO Conference, do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), nesta quarta-feira, 15. Enquanto fundos de investimento procuram soluções para acelerar a agricultura de baixo carbono no Brasil, produtores rurais têm mostrado maior aptidão à busca de financiamentos alternativos.
Segundo Francisco Jardim, cofundador e sócio-diretor da SP Ventures — gestora de Venture Capital voltada para o agronegócio —, o setor está na mira das fintechs e isso permite ao produtor acessar novas fontes de financiamento e estreitar relações com a iniciativa privada. “O Brasil está construindo uma indústria intensiva de serviços financeiros para o agro como em nenhum lugar do mundo”, ele avalia ao citar mecanismos como Fiagro ou CPR Verde.
Ainda assim, o agronegócio não chega a representar 3% do mercado de capitais, segundo Flavio Zaclis, sócio-fundador da Barn Investimentos, algo contraditório do ponto de vista de representatividade no PIB brasileiro. A contradição só será reduzida se houver mais segurança jurídica para investimentos no setor, o que passa por avançar em questões logísticas e transparência nos dados da cadeia produtiva.
“[A necessidade do] investimento em infraestrutura é bem óbvia. O que permite que as coisas transitem e funcionem de forma eficiente são os dados. Quanto mais dados do campo, do caminhão, do armazém, mais eficiente a gente vai ser”, avalia Zaclis.
Para ele, o acesso a dados confiáveis e recorrentes permite financiamento mais aprimorado por parte de todos os players.
Também é a geração de dados que pode impulsionar a contratação do seguro agrícola no país. Zaclis, da Barn Investimentos, sugere que mediante o dado granular da área agrícola poderia haver uma correlação entre produtividade e preços de apólice. “Quem produz melhor e é comprovado deveria pagar um seguro menor”, sugere.
No entanto, a contratação do seguro tem baixa penetração no campo por causa da dificuldade em obter informações climáticas. Menos de 5% da área agrícola brasileira está assegurada, o que também cria um ambiente de insegurança para quem investe. “Fazer previsibilidade e precificação numa apólice de seguros é um problema no Brasil. Isso poderia facilitar o crédito ou, pelo menos, barateá-lo”, observa Renato Ramalho, cofundador e CEO da KPTL.
Ampliar o seguro passa por uma mudança na lógica de subsídios, na visão de Francisco Jardim, da SP Ventures. Em suma, o recurso público deveria ser direcionado ao risco climático, enquanto o crédito privado mais voltado para o mercado agrícola.
“Em outros países, o subsídio público está no seguro e não no crédito, porque a iniciativa privada sempre vai ter dificuldade em correr o risco climático. Quando você consegue tirar o risco via o seguro agrícola subsidiado, protegido pelo governo, você consegue destravar uma explosão no setor privado, financiado a cadeia e eliminando alguns dos riscos”, explica Jardim.
Com o radar ligado para investimentos no agronegócio, os executivos elencam dois ramos de atuação como promissores: mercado de carbono e produtos biológicos. Ambos estão em linha com o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (ABC+), do Ministério do Meio Ambiente.
Ainda que demonstrem certo receio quanto aos mecanismos do mercado de carbono em definição, os painelistas se mostram otimistas quanto à agregação de valor que isto pode proporcionar à atividade agropecuária.
Na conversa mediada por Thiago Duarte, sócio do BTG Pactual, o tom é que o Brasil se encaminha para plantar comida e carbono. Isso porque, os 80 mil hectares degradados espalhados pelo País podem passar de passivos para ativos, e produzir alimento e florestas.
“O potencial é de o Brasil ser para o mercado de carbono o que é a Arábia Saudita é no mercado de petróleo”, resume Francisco Jardim.Para Renato Ramalho, da KPTL, o momento é de oportunidade para construir o mercado de carbono de forma conjunta, levando em conta a maior procura por parte da própria sociedade civil.
“Tem uma beleza que é: a demanda está vindo da pessoa física, que está pressionando a indústria, e isso é muito forte”, diz ao apontar que a rastreabilidade deve acompanhar o movimento.
Outra fatia de mercado que cresce no agronegócio são os produtos biológicos. De acordo com a Research and Markets, o mercado de insumos biológicos deverá alcançar faturamento de US$ 18,5 bilhões até 2026, podendo crescer 74% nos próximos quatro anos, ante um ligeiro aumento de 3,7% nos defensivos químicos.
Seja para contribuir com a transição para uma economia mais verde, seja pela resiliência climática, o aporte nos biológicos é uma tendência para quem atua também com os agrotóxicos. “A gente acredita que as grandes indústrias químicas do mundo vão começar a comprar esse ativo aqui no Brasil”, comenta Jardim, da SP Ventures.