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Seca no Brasil traz risco de onda de descumprimento de contratos no agro

Agricultores que sofreram grandes quedas de produção por questões climáticas têm optado por renegociar contratos — sinal de que a turbulência que marca os mercados agrícolas neste ano não acabou

Fazenda de produção de café em Minas Gerais: preço dos grãos arábica subiu 50% no último ano em meio às perdas da produção (Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)

Fazenda de produção de café em Minas Gerais: preço dos grãos arábica subiu 50% no último ano em meio às perdas da produção (Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 4 de junho de 2021 às 13h51.

Última atualização em 4 de junho de 2021 às 14h48.

A seca no Brasil é tão grave que alguns agricultores não têm cumprido seus contratos de venda, um sinal de que a turbulência que marca os mercados agrícolas neste ano não acabou.

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Processos judiciais e renegociações de contratos agora são opções usadas por agricultores que sofreram grandes quedas de produção e tradings que compram as safras para exportação.

Tais medidas podem resultar em atrasos e perdas para compradores quando a oferta já está apertada e a inflação dos alimentos é um temor crescente. Não é pouca coisa, já que os produtos agrícolas do Brasil são usados em tudo. O país é o maior exportador de açúcar, soja e café arábica, além de ser o segundo em milho depois dos Estados Unidos.

As lavouras brasileiras são prejudicadas pelo clima seco e, embora isso tenha levado a um rali impressionante, os contratos de venda foram fechados antes a preços muito mais baixos. Durante a colheita de soja do Brasil em fevereiro, alguns produtores se recusaram a honrar acordos de venda, o que levou tradings a abrir processos. Com as safras de café e milho chegando em questão de semanas, existe o receio de que casos semelhantes se repitam, e alguns produtores sinalizam que não pretendem honrar os contratos.

“Nossa maior preocupação é que haja uma onda de agricultores que não queiram cumprir os contratos por causa da diferença de preços”, disse André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), em referência aos contratos de milho. “Só saberemos após o início da colheita em duas semanas.”

Produtores de milho que sabem que venderam mais do que vão colher estão tentando alterar ou cancelar contratos, disse Tarso Veloso, analista da AgResource, com sede em Chicago. Mas, por enquanto, esses são incidentes isolados.

No entanto, mesmo os cancelamentos de soja no início deste ano representaram um volume “insignificante”, disse Wellington Andrade, diretor executivo da Aprosoja em Mato Grosso. A maioria dos agricultores está cumprindo os contratos, disse. Andrade não espera que haja descumprimento de contratos de milho.

Processos

O escritório de advocacia Santos Neto processou mais de 40 produtores de soja neste ano e agora se prepara para mais ações judiciais contra produtores de milho e café. O preço dos grãos de café arábica subiu 50% no último ano em meio às perdas da produção, enquanto os futuros do milho mais que dobraram.

“Alguns agricultores estão prestes a fazer a colheita do milho, mas não estabeleceram uma data para entrega”, disse Fernando Billoti, sócio do escritório que tem entre seus clientes tradings agrícolas. “Nossos clientes também estão preocupados que o mesmo possa acontecer com produtores de café.”

Tradings planejam criar um cadastro de agricultores que não cumpram os contratos de milho, o que os impedirá de revender suas safras para empresas concorrentes, disse Nassar, da Abiove. Atualmente, os preços à vista da safra de milho prestes a ser colhida estão bem mais altos do que o combinado nos contratos, afirmou. Essas vendas representam até 64% da safra. Quando agricultores não cumprem os contratos, as tradings recorrem aos mercados à vista para cumprir suas obrigações.

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