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Seca e queimadas derrubam PIB do agro em 2024; queda do terceiro trimestre veio acima do esperado

PIB do agro caiu 0,8% no terceiro trimestre, segundo o IBGE

Colheita de cana-de-açúcar (Emiliano Capozoli/Exame)

Colheita de cana-de-açúcar (Emiliano Capozoli/Exame)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 3 de dezembro de 2024 às 17h17.

A seca severa que atingiu o Brasil em 2024 e as queimadas foram responsáveis pelo recuo de 0,8% no Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio no terceiro trimestre deste ano na relação com o mesmo período do ano passado.

"A queda foi um pouco pior do que o previsto, principalmente por causa da seca, mas também pelos incêndios, que afetaram especialmente a cana-de-açúcar", afirma à EXAME, Nicole Rennó, professora da Esalq/USP e pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

Neste ano, o Brasil enfrentou uma das piores secas já registradas, impactando culturas como soja, milho, café e laranja, além de prejudicar a pecuária e a própria cana-de-açúcar.

Em relação ao segundo trimestre deste ano, a atividade econômica do agro caiu 0,9%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A retração, segundo o IBGE, foi influenciada pela sazonalidade de algumas commodities, que apresentaram queda em comparação ao segundo trimestre, como a cana (-1,2%), o milho (-11,9%) e a laranja (-14,9%) — essas quedas superaram o bom desempenho de culturas como o algodão (14,5%), o trigo (5,3%) e o café (0,3%), que têm safras relevantes no período.

Na visão de Rennó, além do clima instável, que afetou diversas lavouras ao longo do ano, a baixa nos preços das commodities, sobretudo da soja, prejudicou os ganhos do setor. A situação, afirma a pesquisadora, deve ser sentida também no próximo trimestre. "Considerando tudo isso,  já é esperado,  inclusive, que a gente termine o ano em queda", afirma.

Mesmo com o recuo exercido pela questão climática e das queimadas, Haroldo Torres, economista e sócio-diretor da PECEGE Consultoria e Projetos, acredita que o momento vivido pelo agronegócio é de acomodação nos preços. Segundo ele, as cotações das commodities subiram a níveis significativos nos últimos anos, sobretudo durante a pandemia.

"Enquanto o PIB geral foi beneficiado pela recuperação de áreas urbanas e pela resiliência de setores não agroindustriais, o agronegócio sofreu com choques climáticos e com a queda dos preços das commodities no mercado internacional, reduzindo sua contribuição. O agronegócio enfrenta agora um movimento de ajuste", diz Torres.

PIB do agro no 4º tri

Para o quarto trimestre as projeções indicam uma nova queda, o que deve reforçar a perspectiva de um ano desafiador para o agronegócio brasileiro, diz Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

"O próximo trimestre divulgado (que conheceremos em março/25) deve apresentar uma leve recuperação, mas ainda sem possibilidade de reverter a queda acumulada no ano (que, por enquanto, está em -0,8%, mas faremos uma revisão após o anúncio de hoje)", afirma Conchon.

Ainda que o cenário seja de terra arrasada para este ano, as expectativas para o próximo ano em relação ao PIB do agro são mais positivas.

A previsão de uma safra recorde de grãos no Brasil, especialmente de soja e milho, deve impulsionar a cadeia produtiva do setor, embora as margens para os produtores permaneçam apertadas.

"Para o próximo ano, o PIB da agropecuária deve apresentar crescimento, principalmente devido ao bom desenvolvimento da safra de verão até o momento. Estimativas preliminares da CNA apontam que o ano pode encerrar com um crescimento em torno de 3,2%", diz Conchon.

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