Apoio:
(Carolina Gehlen/Exame)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 30 de outubro de 2024 às 06h01.
Um dos principais produtores de cana-de-açúcar do Brasil, o estado de São Paulo pretende se destacar também na produção de café com o Programa Estadual de Incentivo ao Cultivo de Coffea Canephora, que deve ser anunciado na quinta-feira, 31.
A iniciativa, liderada pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do governo paulista, visa revitalizar a cafeicultura nas regiões Centro-Oeste, Oeste e Noroeste do estado. Historicamente, São Paulo já foi uma referência nacional na produção de café, especialmente de café arábica.
A expectativa da Secretaria é que os investimentos somem R$ 500 milhões ao longo dos próximos cinco anos. O estado contribuirá com pesquisa, extensão e linhas de crédito por meio do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap), para o pequeno produtor.
O restante dos recursos virá de parcerias público-privadas, desenhadas pela Secretaria, que envolverão investimentos da indústria em plantio, desenvolvimento da cadeia produtiva, máquinas e equipamentos. O plano deve ser detalhado no lançamento.
Desenvolvido em parceria com a Câmara Setorial do Café – fórum criado para discutir temas do setor –, o projeto conta também com a participação da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) e da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP).
“Com os pesquisadores e técnicos da SAA e a colaboração do setor produtivo, a expectativa é de uma cafeicultura cada vez mais resiliente, com produtores ambiental e financeiramente sustentáveis e adaptados às mudanças climáticas”, afirma o secretário Guilherme Piai.
O último levantamento da safra de café em São Paulo aponta que o estado produziu 4,9 milhões sacas de café na safra 2023/24, uma queda de 9,1% em relação à temporada anterior. As principais regiões produtoras são Franca (43,0%), São João da Boa Vista (27,6%) e Marília (7,1%), que juntas concentram 77,7% da produção cafeeira do estado. No ano passado, o país produziu 55 milhões de sacas.
O anúncio do governo paulista ocorre em meio à notícia de que a gestão de Tarcísio de Freitas planeja vender sete hectares do Centro Experimental Central (CEC) do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), conhecido como Fazenda Santa Elisa, que possui um total de 700 hectares. À EXAME, o governo assegurou que o desmembramento não afetará as áreas de pesquisa em andamento, incluindo o banco de germoplasma de café e macaúba.
O Brasil é o maior produtor mundial de café, responsável por aproximadamente 40% da produção global, seguido de longe pelo Vietnã, o segundo maior produtor. Por aqui, as principais espécies cultivadas são o arábica e o canephora (que inclui as variedades conilon e robusta, geralmente consideradas sinônimos no país).
O café arábica é valorizado por suas características sensoriais complexas, com notas de chocolate, frutas, ervas e flores. Com maior teor de açúcares e acidez agradável, é o preferido entre especialistas e consumidores.
Em contrapartida, o café robusta é amplamente utilizado pela indústria para a produção de café solúvel e como componente em blends com arábica. Seu perfil de sabor é mais intenso, e a planta é mais resistente e fácil de cultivar, fatores que justificam sua popularidade na indústria.
Embora o país seja mais conhecido pelo café arábica, a produção de Canephora tem crescido, especialmente nos estados de Espírito Santo, Bahia e Rondônia, que juntos representam cerca de 30% da produção nacional.
O Espírito Santo, inclusive, é responsável por 65% do Canephora produzido no Brasil, seguido por Rondônia e Bahia. Com o novo programa, a expectativa de São Paulo é figurar a médio prazo entre os produtores de destaque de Canephora.
A Região Sudeste do Brasil, com destaque para o estado de Minas Gerais, é a principal produtora de café do país. Em 2023, os quatro estados da Região Sudeste foram responsáveis por 86% da produção nacional de café — somente Minas Gerais contribuiu com cerca de 25% de toda a safra de café do Brasil, segundo dados da Embrapa.