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Projeto oferece oficinas das diferentes etapas da produção de alimentos, imersões agroecológicas, vivências. (Quebrada Orgânica /Getty Images)
EXAME Solutions
Publicado em 27 de maio de 2024 às 15h00.
De onde vem a comida que você consome? Provavelmente, "do supermercado" foi sua primeira resposta. No entanto, muitos desconhecem os processos e os impactos envolvidos na produção dos alimentos até que estes cheguem às prateleiras. Na Zona Sul de São Paulo, no entanto, o Quebrada Orgânica foi um projeto construído a partir do olhar da periferia que tem resgatado a conexão com a terra e com os alimentos, unindo a comunidade do bairro Jardim Riviera em torno da agricultura urbana e da sustentabilidade.
A iniciativa nasceu em 2018, fruto da inquietação de seus fundadores, Joy Izauri e Robert Placides. “Sempre nos incomodou a questão do lixo na comunidade periférica e a ausência de uma educação ambiental e comunitária", explica Joy. O casal começou cultivando alimentos orgânicos na varanda de casa e logo decidiu expandir as atividades para envolver mais pessoas da periferia.
O projeto se destacou inicialmente pela criação de composteiras acessíveis, que reaproveitavam galões de água. Placides desenvolveu dois modelos de composteira: o primeiro, destinado às residências dos moradores, incentivava a compostagem doméstica; o segundo era maior e foi implementado em creches, escolas e outros espaços comunitários do Jardim Riviera. A partir dessa iniciativa, a Quebrada Orgânica começou a promover oficinas sobre compostagem, produção de húmus e biofertilizantes, além do plantio de hortas. Essas atividades estimulavam a troca de alimentos entre vizinhos, fortalecendo a comunidade local.
Atualmente, o projeto trabalha em duas frentes: a agricultura urbana e a educação ambiental, atravessadas por um eixo artístico-cultural com diversas ferramentas e abordagens para comunicação, conscientização e envolvimento da comunidade, como mostras de arte, projeções audiovisuais e instalações artísticas.
Na primeira vertente, há a produção de módulos escaláveis de hortas de todos os tipos e tamanhos, com o cultivo do alimento da produção da muda até o plantio e colheita. Na segunda, são trabalhadas imersões agroecológicas, vivências urbano rurais e gastronomia social.
“Hoje temos diversas oficinas desde plantio, colheita, produção de mudas, compostagem, fabricação de composteira, até impressão botânica, imersão de desbloqueio criativo e corporal, com atividades como leitura sonora e observação de pássaros. E aí, a gente vai para cozinha, tem a parte gastronômica. O Robert já realizou diversas oficinas de aproveitamento total de alimentos, reaproveitamento, receitas com PANCs”, explica Izauri .
Para ele, a gastronomia social resgata saberes ancestrais e promove uma alimentação saudável e sustentável. “Ressignificar alimentos como jaca, abóbora e quiabo ajuda na economia doméstica, no bem-estar da família e no processo criativo de quem cozinha”, defende.
O impacto do Quebrada Orgânica é evidente também nas histórias dos voluntários e de projetos sociais que recebem apoio da iniciativa. Gilvandro de Jesus, 60 anos, encontrou no projeto uma nova paixão após ficar desempregado.
“Eu não tinha contato com a terra, mas hoje sinto como isso faz bem para minha cabeça e meu corpo, como se fosse uma terapia. Já me considero um agricultor urbano!”, conta com orgulho.
Ele está na Quebrada desde o início e contribui com o preparo do solo, adubação, plantio de sementes e mudas, e toda a manutenção dos canteiros. “Quanto mais pessoas se interessarem pelas atividades com a terra e mais cedo, maior a chance de uma vida e de um planeta melhor”, assegura.
Há dois anos a Quebrada Orgânica apadrinhou o Ninho da Esperança - ONG do Jardim Riviera que oferece gratuitamente atividades socioeducativas, laborterapia e trabalho assistenciais a crianças, adolescentes e adultos com deficiência e suas famílias - e grande parte dos alimentos produzidos, legumes, verduras e frutas, são doados à entidade.
A parceria também promove atividades inclusivas de arte e colheita, o que para a coordenadora da ONG, Claudya de Souza Vieira, fortalece laços comunitários e integra os assistidos à natureza. “A Quebrada Orgânica chegou para fazer diferença. Muitos nunca tinham colocado o pé na terra ou na grama, pegado uma fruta no pé, tirado uma verdura da terra. Eles ficam encantados com as cores da natureza”, conta.