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Projeto A.Mar fortalece e valoriza a pesca artesanal no litoral de São Paulo

Iniciativa no litoral de São Paulo, já ganha novos contornos, sendo disseminada em locais como Ceará, Paraty (RJ) e o Peru

“Em 2014, 2015, um quilo de carapau [tipo de peixe] chegava a menos de um real. Hoje, é difícil vender por menos de 8 ou 10 reais”, diz Villar (Victor Collor/Divulgação)

“Em 2014, 2015, um quilo de carapau [tipo de peixe] chegava a menos de um real. Hoje, é difícil vender por menos de 8 ou 10 reais”, diz Villar (Victor Collor/Divulgação)

Publicado em 28 de maio de 2024 às 17h10.

Última atualização em 29 de maio de 2024 às 17h42.

Valorizar a pesca artesanal do litoral paulista é um dos principais objetivos do Projeto A.Mar, uma iniciativa do publicitário Rodolfo Villar. A ideia começou a ser maturada em 2004 e foi apresentada oficialmente em 2017. “Até então acontecia de forma silenciosa”, conta Villar, que frequenta a praia do Bonete desde pequeno, onde aprendeu a pescar.

A comunidade que ele frequentava não tinha energia elétrica e, com isso, era um desafio conservar o pescado com qualidade. “É uma realidade dura [a dos pescadores]”, diz.

Vendo valor na pesca artesanal, Villar queria, de alguma forma, valorizar o trabalho das comunidades tradicionais. “Eles têm uma intimidade profunda com a natureza e principalmente com o mar, aquela coisa líquida que você tem que interpretar de outra forma, não só visual, mas muito sensorial. Onde está o peixe se você não consegue enxergar o que está embaixo d'água?”, reflete.

“E isso chamava a nossa atenção. Meio que a gente idolatrava esse saber tão profundo. Tem pessoas que nunca saíram da comunidade. Tem gente que fica mais tempo em cima da canoa do que na praia.”

Com as técnicas de conservação adequadas, o pescado mantém sua alta qualidade por mais tempo. (Victor Collor/Divulgação)

Com as técnicas de conservação adequadas, o pescado mantém sua alta qualidade por mais tempo

Foi com essa percepção que Villar deu início ao projeto A.Mar, visando principalmente valorizar as comunidades de pesca artesanal.

“Mostrar para o mundo que essas pessoas existem, que elas têm uma importância gigantesca do ponto de vista ambiental, da cultura e na cadeia alimentar, e são praticamente invisíveis na cadeia produtiva.”

Capacitação para melhorar a qualidade do peixe

Nesse sentido, uma das frentes de atuação do projeto é ensinar técnicas de conservação do pescado – visto que, sem energia elétrica e refrigeração, o peixe estraga muito rápido. Com as técnicas apresentadas - defumação, conserva, salga, charcutaria e fermentação -, o pescado passou a manter sua alta qualidade por mais tempo e ser mais valorizado para venda. Sem tanta pressa para vender, os pescadores podem escolher melhor os compradores.

Villar dá exemplos do resultado desse trabalho: “em 2014, 2015, um quilo de carapau [tipo de peixe] chegava a menos de um real. Hoje, é difícil vender por menos de 8 ou 10 reais”. “O pescado da Ilhabela, que era conhecido no mercado pela baixa qualidade, porque as comunidades estão afastadas, até o peixe chegar no centro para comercializar, hoje é muito desejado”, comenta, frisando que essa mudança de reputação não é reflexo apenas do Projeto A.Mar, “mas ele contamina, todo mundo usufrui”.

Incremento de renda chega a 80 mil reais por ano

Villar dá mais uma dimensão do impacto da valorização do pescado nas comunidades tradicionais de Ilhabela. Ele conta que a técnica de pesca artesanal mais praticada na ilha é o cerco-flutuante, “uma herança da colonização japonesa, que chegou na ilha em 1905”.

Hoje, segundo ele, são 46 cercos-flutuantes ativos na Ilhabela e somente os cercos relacionados ao Projeto A.Mar geram 40 toneladas de pescado por ano. “Se você conseguir incrementar em dois reais o quilo do peixe em função da qualidade, porque o preço do pescado está totalmente relacionado à qualidade do peixe na hora da venda, estamos falando de 80 mil reais de renda a mais nesses cercos.” Normalmente, complementa Villar, os cercos são de famílias.

Hoje, segundo Villar, são 46 cercos-flutuantes ativos na Ilhabela e somente os cercos relacionados ao Projeto A.Mar geram 40 toneladas de pescado por ano. (Projeto A.Mar/Divulgação)

Hoje, segundo Villar, são 46 cercos-flutuantes ativos na Ilhabela e somente os cercos relacionados ao Projeto A.Mar geram 40 toneladas de pescado por ano

A venda do peixe fresco, diz Villar, fica a cargo do pescador - o Projeto A.Mar não faz essa intermediação. As fontes de receita da organização vêm de um laboratório de pesquisa e desenvolvimento instalado na Ilhabela e de treinamentos que são ofertados.

Produtos desenvolvidos no laboratório do projeto são comercializados em empórios. ( Kato/Divulgação)

Produtos desenvolvidos no laboratório do projeto são comercializados em empórios

No laboratório, conta Villar, o Projeto A.Mar cria novas soluções e produtos para o pescado, que são vendidos em restaurantes e empórios. Alguns exemplos do que saiu do laboratório e hoje está nas mesas de restaurantes paulistanos:

  • A alheira de carapau do Balaio, do chef Rodrigo Oliveira;
  • Itens da tábua do mar do Atlântico 212, do chef Stefan Weitbrecht;
  • Linguiça de pescados não convencionais na enoteca Saint VinSaint, da Lis Cereja;
  • Ovas de tainha reconstruídas no restaurante Maní.

Uma das frentes de atuação do projeto é ensinar técnicas de conservação do pescado – visto que, sem energia elétrica e refrigeração, o peixe estraga muito rápido. (Projeto A.Mar/Divulgação)

Uma das frentes de atuação do projeto é ensinar técnicas de conservação do pescado – visto que, sem energia elétrica e refrigeração, o peixe estraga muito rápido

Todo esse conhecimento vem sendo disseminado para outras localidades também, como o Ceará, Parati (RJ) e o Peru. “A demanda existe em outros estados e até fora do Brasil”, conclui Villar.

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