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Preço do arroz dispara no Japão, e agricultores protestam contra regras que limitam produção

Governo subsidia fazendeiros para reduzirem área plantada do grão desde os anos 1970, política que agora é alvo de críticas em meio à escassez do produto

Protesto em Tóquio contra as regulamentações do governo que limitam a quantidade de arroz que os agricultores podem cultivar (Richard A. Brooks / AFP)

Protesto em Tóquio contra as regulamentações do governo que limitam a quantidade de arroz que os agricultores podem cultivar (Richard A. Brooks / AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 31 de março de 2025 às 14h48.

Última atualização em 31 de março de 2025 às 14h56.

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A disparada no preço do arroz, que tem assustado os consumidores japoneses, se tornou um problema também para os produtores do grão, essencial na culinária local. Neste domingo, fazendeiros foram às ruas protestar contra a política do governo para lidar com a crise.

No último ano, o Japão enfrentou uma escassez de mais de 200 mil toneladas de arroz. Os preços do arroz dispararam, e supermercados foram forçados a limitar a quantidade que os clientes podem comprar. A situação se tornou tão grave que o governo precisou recorrer a suas reservas emergenciais de arroz.

O paradoxo é que, mesmo lidando com a escassez, o governo paga aos agricultores para limitarem a produção. Essa política, em vigor há mais de meio século, consome bilhões de dólares por ano em gastos públicos.

Exasperados com as regulamentações, agricultores protestaram no domingo. Em um parque no centro de Tóquio, mais de 4 mil produtores se reuniram com cartazes declarando: “O arroz é vida” e “Produzimos arroz, mas não conseguimos sobreviver.”

A capacidade do Japão de gerenciar essa crise do arroz pode ter implicações significativas para o cenário político e econômico do país nos próximos meses.

No mês passado, a inflação dos alimentos frescos subiu 19%, impulsionada por um aumento de 81% no preço do arroz. As preocupações com o custo dos alimentos e de outros itens essenciais pesam sobre os consumidores japoneses e a economia, à medida que as famílias reduzem seus gastos.

A escassez do principal alimento japonês também ocorre às vésperas de uma eleição para a Câmara Alta, que será o primeiro pleito nacional do primeiro-ministro Shigeru Ishiba. Seu antecessor renunciou em agosto devido a índices de aprovação pública extremamente baixos, causados, em grande parte, pelo aumento no custo dos bens básicos.

A escassez de arroz resulta de uma combinação de fatores, incluindo a onda de calor recorde no verão de 2023, que prejudicou a colheita.

Mas especialistas apontam que a verdadeira raiz do problema está em uma política adotada há décadas que reduziu sistematicamente as terras cultiváveis para o plantio de arroz. Desde os anos 1970, o Japão tem subsidiado agricultores para limitarem a produção do grão. O objetivo, segundo autoridades, é sustentar a renda dos agricultores mantendo os preços elevados.

Os produtores que participaram do protesto afirmam que essa política não está funcionando.

Embora seja ligeiramente mais custoso, um modelo focado na expansão da produção aumentaria a oferta de arroz, fortalecendo a segurança alimentar do Japão e reduzindo os preços para os consumidores, afirmou Nobuhiro Suzuki, professor de economia agrícola da Universidade de Tóquio.

Permitir que os agricultores cultivem sem restrições, enquanto garantem sua renda, também tornaria o setor mais atrativo para as novas gerações de trabalhadores, acrescentou ele.

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