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Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 3 de setembro de 2024 às 07h00.
Uma plataforma que pretende modernizar a forma como a soja é negociada no mercado físico. Foi essa a premissa da Bolsa de Valores de Hong Kong (HKEK, na sigla em inglês) ao lançar, em 2023, a Qianhai Mercantile Exchange (QME), instrumento especializado na negociação de commodities físicas.
A grande novidade deste ano é a inclusão do Brasil na estratégia da HKEK. Sendo responsável por 70% das importações de soja da China, o Brasil representa um elemento crucial no plano ambicioso da HKEK para expandir sua cobertura no mercado global.
Historicamente, as negociações são realizadas por meio de métodos como telefonemas, reuniões, e-mails, WeChat e WhatsApp. Agora, com o processo digital, as transações entre compradores e vendedores devem ser mais ágeis e ampliar o número de negócios, além de fomentar o desenvolvimento desse mercado de negociação física de soja.
"Essa plataforma só se viabiliza na medida em que o Brasil e os produtores brasileiros participem e adotem essa nova mecânica de negociação. Não é para competir com a mecânica tradicional, é para adicionar", afirmou à EXAME, Daniel Sonder, ex-CFO da Bolsa Brasileira (B3) e, atualmente, Chief Administrative Officer (CAO) na HKEK.
Embora a sede principal da HKEK esteja em Hong Kong, a subsidiária responsável pela QME opera em Shenzhen, no sul da China. A plataforma é financiada em 90% pelo grupo de Hong Kong e em 10% pelo governo da cidade de Shenzhen, por meio da região de desenvolvimento Qianhai.
De acordo com Sonder, a proposta é conectar os dois principais interessados no grão brasileiro no ambiente eletrônico e permitir que "registrem essa transação no ambiente seguro e com alta governança e depois possam fazer a entrega e a liquidação dessa transação fora de bolsa, porque é uma bolsa de commodities físicas e não de mercados futuros", destaca.
No mercado futuro, os contratos são acordados para a entrega em uma data posterior, sem troca imediata de produto. Por outro lado, no físico, a transação é concluída com a troca imediata do produto por dinheiro.
A iniciativa, inédita no Brasil, tem um longo caminho para percorrer, acredita Sonder. Segundo ele, exigirá um forte compromisso tanto dos parceiros da Bolsa de Hong Kong quanto das autoridades de Shenzhen para inovar em um segmento tradicional e evoluir ao longo do tempo.
Atualmente, grandes tradings globais como Sinograin, Cofco, Jiusan Group e Beidahuang Group estão entre os principais participantes da plataforma. O objetivo é atrair outras gigantes do setor, como Cargill e Syngenta. No entanto, ainda não há uma expectativa definida para o volume de transações neste início de operações.
"A estratégia é captar gradualmente uma parte do mercado ao longo do tempo. Para isso, é fundamental incentivar os traders brasileiros e os profissionais de commodities a começarem a usar a plataforma e experimentar suas funcionalidades", acredita Sonder.
O Brasil é o maior produtor mundial de soja, acompanhado de Estados Unidos e Argentina. Juntos, esses países devem somar 340,7 milhões de toneladas da oleaginosa em 2024/25.
Os EUA e a Argentina devem produzir 120,7 e 51 milhões de toneladas, respectivamente, segundo estimativas do Departamento de Agricultura norte-americano (USDA). Além disso, o Brasil é o principal exportador mundial do grão.
Na temporada 2024/25, o país deve embarcar 105 milhões de toneladas de soja, de acordo com as estimativas do Itaú BBA Agro, e a China deve ser o principal destino dessas exportações.
Para Sonder, a entrada do Brasil é essencial para o sucesso da plataforma. Para garantir uma compreensão aprofundada das particularidades operacionais, comerciais e logísticas do mercado brasileiro, a bolsa asiática contou com a consultoria da Advisia.
No primeiro semestre deste ano, as exportações brasileiras do agronegócio alcançaram US$ 82,39 bilhões – o complexo soja liderou com US$ 33,53 bilhões, o que representou 40,7% do total embarcado.