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Fertilizantes: demanda no Brasil deve atingir 45 milhões de toneladas este ano, segundo Eduardo Monteiro, da Mosaic (Tony Oliveira/CNA Senar/Divulgação)
Repórter de Agro
Publicado em 11 de janeiro de 2024 às 10h45.
Última atualização em 11 de janeiro de 2024 às 13h47.
Embora a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostre recuo de 4,2% no volume de grãos da safra 2023/24, em relação à expectatativa no início da temporada, o volume a ser colhido na soja pode ter aumento de 0,4% ante a safra anterior, chegando a 155,27 milhões de toneladas. Este número, junto à projeção de 117,60 milhões de toneladas para o milho e os preparativos para 2024/25, contribui para que o setor de fertilizantes seja otimista quanto ao desempenho de 2024 – mesmo fora da janela ideal de comercialização.
O atraso no plantio da safra 2023/24 tem motivado a postergação da compra de insumo da safrinha de milho, cujo fator El Niño se torna mais desafiador, por causa de um período mais restrito de semeadura. Diante disso, o fertilizante, conhecido por ser o fornecedor de nutrientes para a planta, não pode faltar no solo, principalmente no momento em que a planta precisa crescer praticamente de forma cronometrada.
Na avaliação da Argus, os agricultores estão aguardando uma relação de troca favorável para efetuar as compras – quando um determinado volume de produção é trocado por uma tonelada de fertilizante. O reflexo são as compras finais de pequenos volumes de fertilizantes para o início de meados de janeiro.
"Os participantes do mercado esperam que os acordos de fertilizantes à base de nitrogênio para a segunda safra de milho aumentem principalmente em janeiro e se estendam ao longo do primeiro trimestre para áreas de plantio posteriores", aponta a agência de análise de mercados.
A concretização mais tardia das compras não intimida a indústria. Eduardo Monteiro, country manager da Mosaic Fertilizantes, acredita que a demanda pelo insumo no Brasil alcance 45 milhões de toneladas este ano. O volume é próximo aos 45,8 milhões de toneladas registrado em 2021, quando o país registrou recorde, de acordo com a Associação Nacional de Difusão de Adubos (ANDA).
Ele explica o que motiva estas projeções. No campo, o produtor se divide entre encerrar as compras do insumo para a segunda safra e se preparar para garantir o estoque para 2024/25. Em termos financeiros, o momento para estas aquisições é favorável quando calculada a relação de troca entre o preço do fertilizante e o valor pago na saca de soja.
“A relação de troca está muito boa, o índice da Mosaic aponta para o menor patamar desde 2021. Então esse é um bom momento para efetuar a compra tanto para a safrinha, quanto para 2024/25, inclusive pelo timming de entrega [por parte da indústria], já que a maior parte do insumo é importada”, diz Monteiro à EXAME.
Na visão de Vagner Martins, gerente de Insumos da ADM, existe uma alteração na dinâmica de oferta e demanda, por causa do atraso na soja e uma janela de plantio mais limitada no milho. Ainda assim, o mercado de fertilizantes se prepara para um consumo igual ou superior ao de 2023.
“Visto que cerca de 90% do consumo de fertilizantes no país é de produtos importados, essas variáveis de oferta e demanda estão sendo consideradas e a indústria de fertilizantes estará pronta para atender a demanda no momento em que ela vier”, afirma.
Outro fator a ser considerado no contexto atual é o clima. Ainda que algumas regiões apresentem quebra de safra, Eduardo Monteiro diz que as chuvas das duas últimas semanas em áreas do Centro-Oeste e Matopiba – acrônimo para Mato Grosso, Tocatins, Piauí e Bahia – favoreceram o desempenho da lavoura.
Vale dizer que o fertilizante só entra em ação com a presença de água, logo, a volta das chuvas pode estimular o agricultor a aplicar o produto, reduzindo riscos de desperdício.
“O pessoal que plantou soja precoce em setembro, para colher no fim do ano e entrar com algodão e milho, sofreu mais [as consequências negativas do clima]. Quem plantou depois vem sofrendo em escala menor. Em termos de safrinha, vejo com mais otimismo em decorrência da chuva das últimas duas semanas, quando percebemos uma mudança para melhor no humor dos produtores”, afirma Eduardo Monteiro.
De acordo com o executivo da Mosaic, entre 15% e 20% dos produtores ainda precisam concluir as compras para a segunda safra de milho. A decisão de compra foi postergada ao máximo por conta do clima, mas até fevereiro é preciso concretizar as aquisições, para dar tempo de preparar a solução química a ser aplicada, no tempo ideal de plantio.
Os fertilizantes são obtidos por meio da mistura de elementos químicos, como nitrogênio, fósforo ou potássio, ou ainda formulações com ureia e amônia. Em condições normais, o adubo começa a ser expedido pelo mercado no final do mês de novembro e vai até o fim de fevereiro, mês relevante para a mistura dos fertilizantes.
Se o agricultor esperar ainda mais para garantir o insumo, ele considera um possível gargalo em fevereiro, pois muitos pedidos ao mesmo tempo à indústria podem atrasar esta mistura de fertilizantes. O prazo máximo para aplicar o produto é até a primeira quinzena de março.
“O milho pede nitrogênio e potássio, então a gente tem uma expectativa que tenha aumento de procura desses dois. Os estoques estão confortáveis para atender o atual contexto. Se a demanda for maior que o esperado, aí pode ter gargalo. A dica para o produtor que ainda não comprou é garantir de fornecedores que já tenham o fertilizante em estoque, para entrega”, diz Monteiro.
Em relação à safra verão – plantada no segundo semestre para colher no primeiro semestre do ano seguinte – a aquisição também está atrasada em relação às safras passadas. De acordo com ele, a esta altura do ano, entre 30% e 35% do fertilizante necessário para a safra verão estaria concretizada, mas a realidade é de apenas cerca de 15% a 17%.
“Em termos práticos para o mercado de fertilizantes, uma concentração grande de compras mais para frente pode gerar pico de preço. Mas, como eu disse, momentaneamente, os preços dos fertilizantes são os menores dos últimos anos”, afirma.
Para 2025, a expectativa é de 46 milhões de toneladas, pois o agricultor tende a recuperar a produtividade que perder esse ano, o que o leva a aumentar a área plantada e/ou mais aplicação do fertilizante.
“Ano passado, que tivemos recorde de safra, também foi recorde de fertilizante. O produtor usou tudo e deu certo, então deve apostar no investimento”, diz.