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Para chegar a R$ 10 bi em crédito rural, fintech aposta em revendas

Crédito é concedido por plataforma digital que pode ser incorporada no trabalho das revendas de insumos, e se torna mais uma saída para agricultores financiarem a safra

Rafael Pilla, CEO da Farmtech, fintech voltada ao crédito rural com sede na Faria Lima (Farmtech/Divulgação)

Rafael Pilla, CEO da Farmtech, fintech voltada ao crédito rural com sede na Faria Lima (Farmtech/Divulgação)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 5 de agosto de 2023 às 06h28.

As alternativas do mercado financeiro para o produtor rural driblar a dependência ao Plano Safra passam pela digitalização do crédito rural. Digital, neste caso, não significa apenas colocar um celular na mão do profissional, mas providenciar ferramentas que facilitem e permitam agricultores e pecuaristas a "trocar a roda com o trator andando".

Trocadilhos à parte, na prática, isso realmente acontece. Isto é, as decisões da safra muitas vezes precisam ser tomadas em cima da hora, com a máquina em campo. Portanto, tomar crédito rapidamente na hora de uma urgência -- como uma intempérie climática ou uma quebra de safra -- exige estruturação das instituições financeiras para atender produtores com a agilidade necessária.

Leia também: Redução da Selic pode aliviar custos da safra 2023/2024

Ao olhar este comportamento cíclico nas safras, três sócios criaram uma empresa que se encaixa entre uma agtech e uma fintech ao perceber que a ponte entre crédito e produtor é a revenda de insumo. Desde 2017, a Farmtech, criada na Faria Lima, vem silenciosamente conquistando o interior do país.

"O mercado financeiro está aprendendo a lidar com o produtor, mas é preciso quebrar essa barreira da digitalização. Por isso, a parceria com revendas diminui essa resistência cultural", diz Rafael Pilla, CEO da Farmtech.

Qual a atuação da Farmtech?

Dos oito maiores grupos varejistas de defensivos e sementes, quatro utilizam a solução da fintech. Isso faz com que a Farmtech atue com 70% do mercado de insumos. Nomes como UPL, Syngenta e Yara são parceiras da empresa, conta Pilla.

"A indústria de insumos começou a criar financiamentos e entrou para facilitar o pagamento a prazo, mas crédito não é o negócio dela. Então, assumimos um fluxo que facilita tanto a indústria com as revendas, quanto as revendas com produtores", diz Pilla.

Ao longo de seis anos, operações em mais de 1.500 revendas atenderam cerca de 12.000 clientes. No ano passado, o montante financiado chegou a R$ 6,5 bilhões, após 2021 ter registrado R$ 4 bilhões concedidos em crédito. Para 2023, o objetivo é chegar a R$ 10 bilhões.

Leia também: "Fase crítica": CNSeg estima que subvenção ao seguro rural esgote já em agosto

Como a Farmtech foi criada?

Os três sócios Rafael Pilla, Hiram Maisonnave e Ricardo Alves já acumulavam experiência em instituições financeiras relacionadas ao agronegócio, como Rabobank e PNB Paribas, até enxergarem uma carência de recursos financeiros para o segmento dos insumos.

Em 2017, os sócios aportaram recursos próprios, sem revelar o valor inicial. Atualmente, a Farmtech possui R$ 4,7 bilhões de fundos patrimoniais e cerca de R$ 400 milhões derivados de um grupo de investidores que os disponibilizam para rodar as operações em todo o Brasil. Por trás, também estão os bancos comerciais na parceria para o crédito.

No formato trabalhado pela Farmtech, o crédito concedido é de "prazo safra". Ou seja, está atrelado ao calendário agrícola, e por isso é rotativo. "As soluções para o agro são estruturais, permanentes, o setor precisa de crédito a cada seis meses. Então, a parceria com revendas e produtores tmm que ser de longo prazo, ao longo de safras boas e ruins", diz Rafael Pilla.

De 2017 a 2020, o negócio ficou mais voltado ao B2B, cujo relacionamento era restrito às revendas de insumos. Dali em diante, se lançaram ao varejo aprofundando o B2C. Agora, a atuação se divide 50% para cada público.

Neste formato direto com o produtor rural, a análise de crédito é feita com base no CPF e a pré-aprovação do limite acontece antes mesmo da safra, "para dar mais previsibilidade", afirma o CEO.

Para Rafael Pilla, o céu é o limite e ele não arrisca qual a possibilidade de crédito concedido para 2024. No entanto, já sinaliza boas perspectivas. "O que estamos vivendo agora é a volta do ciclo de normalidade do crédito", diz. "A gente viveu nos últimos três ou quatro anos uma exuberância, mas foi acima da realidade. O que a gente vê são decisões mais comedidas e maior cuidado com o crédito."

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