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Publicado em 8 de outubro de 2024 às 16h09.
O Brasil já é reconhecido há muitos anos como uma potência no agronegócio mundial, posição conquistada como fruto de muito trabalho e de um longo processo de desenvolvimento, que foi capaz de transformar imensas áreas do território nacional em polos de produção de grãos e de proteína animal. Mais que ser responsável pelo abastecimento, em condições competitivas, de uma população de cerca de 200 milhões de habitantes, o agro brasileiro, com sua pujança, transformou o país no celeiro do mundo.
A cadeia de valor do nosso agronegócio tem forte participação no PIB e está no topo da pauta de exportações do país. Temos posição de liderança mundial nos mercados de soja, açúcar, suco de laranja, carne bovina e de frango e, mais recentemente, na exportação de algodão. A nossa produção de grãos se multiplicou cerca de 10 vezes nos últimos 50 anos, contribuindo para a queda nos preços dos alimentos tanto no Brasil como em âmbito global.
Os bons resultados do setor são amplamente conhecidos, mas nem sempre devidamente reconhecidos. A abundância de recursos naturais, a grande extensão de terras agricultáveis e as condições climáticas favoráveis são ativos importantíssimos, mas o aumento da produtividade e da competitividade no campo é fruto da genialidade e da disciplina do nosso agricultor e do nosso pecuarista.
Um dos melhores exemplos disso está na produção de soja no Brasil. A soja é uma planta de clima frio, tanto que sua produção comercial teve início no Rio Grande do Sul, com o cultivo de sementes importadas do hemisfério Norte. Transformar o Cerrado brasileiro em polo produtor do grão foi uma tarefa complexa, que exigiu da Embrapa e de outros institutos de pesquisa no Brasil anos de trabalho, determinação e persistência. Foi um longo percurso até que se “domesticassem” os solos pobres do Cerrado e se descobrissem novas técnicas de manejo e tratos culturais, ao mesmo tempo que se investia no desenvolvimento de novas variedades de soja, mais adaptadas à realidade geográfica.
São coisas aparentemente simples, mas que mudaram por completo a nossa maneira de produzir. Mais que transformar a natureza, o agricultor hoje aprende com ela, e o resultado é a revolução silenciosa que presenciamos no campo. Sustentabilidade não é, portanto, mera obrigação em face das crescentes exigências, muitas vezes de caráter protecionista, do mercado mundial; muito antes disso, é um vetor fundamental da estratégia do negócio. A realidade é que o agro brasileiro é sustentável muito antes dessas pressões internacionais.
Na prática, o agro é responsável pela preservação de 26% do território nacional, um total de 218 milhões de hectares, cujo valor patrimonial supera os R$ 4 trilhões. Pode-se dizer, sem exagero, que o Brasil é líder em conservação ambiental, pois, diferentemente de outros países, preserva grandes regiões com alto potencial agrícola. Ao mesmo tempo, o setor despende mais de R$ 26 bilhões em impostos e medidas de proteção, como monitoramento, vigilância e infraestrutura, para prevenir incêndios e outras degradações ambientais.
Além disso, modernos sistemas de monitoramento por satélite são empregados pelo governo, por empresas do agro e por organizações da sociedade civil para fiscalizar e impedir o desmatamento ilegal. As informações coletadas são fornecidas a empresas e a organizações interessadas na preservação ambiental e engajadas em impedir a comercialização de produtos oriundos de áreas desmatadas.
Nessa trajetória de amadurecimento do setor, foi relevante a Política de Preservação Ambiental. No ano 2000, o Brasil criou o Sistema Nacional de Áreas de Conservação, que delimitou áreas relevantes de proteção ambiental e reservas particulares de patrimônio natural, entre vários outros tipos de área protegida, em grande parte em propriedades privadas. Nosso Código Florestal, de 2012, é um dos mais avançados e rigorosos do mundo.
É evidente que ainda temos grandes desafios pela frente na questão ambiental e, sobretudo, no enfrentamento das mudanças climáticas. As dimensões desse problema requerem união de esforços. Nesse cenário, o agro deveria ser visto como um aliado importante na agenda de sustentabilidade em vez de continuar a ser tratado como o grande vilão – até porque uma crescente população mundial depende de uma também crescente produção de alimentos.
A solução desse aparente dilema passa por investimentos, hoje cada vez mais presentes, em tecnologia e inovação. Os benefícios da revolução tecnológica vêm sendo sentidos na gestão ambiental e agropecuária: sistemas de inteligência artificial ajudam a reduzir o uso de água e a aumentar a produtividade agrícola; modelos avançados de previsão meteorológica permitem antecipar eventos climáticos extremos, de maneira a mitigar os danos; drones monitoram a saúde das plantas, identificam doenças e ervas daninhas e permitem a otimização do uso de fertilizantes e defensivos agrícolas; maquinário agrícola e caminhões movidos a biocombustível trazem ganho considerável para o meio ambiente, reduzindo sensivelmente a pegada de carbono da atividade.
O agro brasileiro, graças à expertise acumulada ao longo de sua trajetória, é hoje um dos líderes mundiais na produção de alimentos, bioenergia e fibras naturais. Sua posição o credencia a contribuir ativamente para a definição de novas políticas agrícolas e ambientais de alcance global, que combinem produtividade, competitividade e sustentabilidade.
*José Carlos Grubisich é empresário e foi presidente da Braskem, da Rhodia e da Eldorado Celulose.