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Alan Lai, CEO e fundador da ProfilePrint: empresa faz análise de originização de grãos por 15 dólares e em até um dia (Alan Lai, CEO da ProfilePrint (Crédito Iara Morselli)/Divulgação)
Repórter de Agro
Publicado em 16 de março de 2023 às 07h44.
Do cafezal ao pacote de café, há uma série de exigências sobre rastreabilidade, incluindo a etapa de originação dos grãos. De onde vem o café? Em qual atitude ele foi plantado? Quais as características do café, como teores de açúcar e acidez? Estas são algumas das perguntas que uma análise de grãos em laboratório responde. E todo café que segue para uma trader ou uma indústria passa por essa avaliação para comprovar que atende às exigências dos compradores.
Utilizando modelos de inteligência artificial, a startup de Singapura Profile Print propõe reduzir o custo de análise para cada amostra de café e tornar o processo mais ágil. Alan Lai, CEO e fundador da ProfilePrint, diz em entrevista à EXAME que uma análise de amostra custa entre 50 e 60 dólares, cujo resultado leva duas semanas para sair. A máquina desenvolvida na Ásia reduz o custo para 15 dólares -- e o resultado sai no mesmo dia, ou na mesma hora a depender do volume de dados analisados.
Com uma porção de café verde na palma da mão, Lai insere os grãos em uma espécie de gaveta e em pouco tempo um dispositivo conectado ao computador já dá todo o diagnóstico. O mesmo processo se aplica às sementes do cacau, algo que chamou a atenção das gigantes da indústria de alimentos.
Louis Dreyfus, Olam Agrícola e Sucafina Brasil assinaram contratos com a startup em fevereiro, fazendo parte do grupo de investidores que inclui Cargill e Sinar Mas -- um dos maiores conglomerados da Indonésia. Isso mostra a importância de haver mais precisão na análise dos grãos, além da demanda por soluções inovadoras.
As exportações brasileiras de café cresceram 46,9% em 2022, batendo recorde de receita ao atingir US$ 9,2 bilhões, de acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Com esta receita, o café respondeu por 2,8% das exportações brasileiras no ano e 5,8% das exportações do agronegócio nacional.
O volume da indústria cafeeira nacional é enorme: ao menos uma a cada três xícaras de café consumidas no mundo teve matéria-prima brasileira, segundo levantamento da Organização Internacional do Café (OIC).
Com tamanho volume e importância, Alan Lai, CEO da ProfilePrint, vê espaço para que o Brasil seja “o mercado que cresça mais rápido para a empresa por conta da atuação em café e a adoção de muita tecnologia no campo”.
O negócio segue um modelo de assinatura, cujo valor é de 400 dólares por mês pelo serviço, o que inclui a máquina e a geração dos dados.
A tecnologia de Singapura também pode ser adquirida pelos próprios produtores de café, comenta o CEO da ProfilePrint. Além de avaliar a qualidade da safra quase que em tempo real, a rastreabilidade é um meio de “obter um preço de venda mais justo com os compradores, principalmente aos grãos especiais”.
Fundada em 2017, com sede em Singapura, a empresa nasceu a partir da oportunidade de mercado vista por Alan Lai. "É um movimento global saber mais sobre o que consumimos, vejo consumidores interessados na origem do alimento em todo o mundo", conta o CEO. Assim, a empresa não apenas atende à cadeia de café e cacau, mas também pimentas, chás, especiarias, arroz e outros ingredientes usados pela indústria alimentícia.
Experiente no ramo de fintech para fundos de private equity, o investidor enxergou na agricultura uma forma de atender a uma cadeia completa, "do produtor ao barista". Além disso, como ele diz, esta variedade de matérias-primas é encontrada no Brasil. Por isso, a vinda para cá já era esperada e ele conta ter feito questão de visitar fazendas e conversar com produtores, traders e compradores.
"Outros mercados de café também estão no nosso radar. Austrália, por exemplo, é um mercado importante, mas menor. Quando olhamos para área e produtividade, olhamos para América do Sul e principalmente para o Brasil", afirma o CEO.
Empolgado ao contar sobre a empresa, Alan Lai diz que prevê crescimento de 300% em 2023, mas não esclarece qual o comparativo. Ainda assim, parte deste otimismo também está na oportunidade com o mercado de carbono. A tese dele é de que este mercado deva crescer no Brasil e no mundo, se tornando realidade para cafeicultores, à medida que a cultura vem se prejudicando com o avanço das mudanças climáticas.
Ao saber o nível de emissão gerada pelos cafezais, é possível fazer correções, como manejo de solo e aplicações de insumos mais precisas. Assim, não apenas o produtor mas todos os stakeholders envolvidos contribuem para a descarbonização da cadeia produtiva. “A pegada de carbono da cadeia de alimentos será significativamente reduzida”, comenta o CEO.