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O agrônomo que ajudou a introduzir a soja no Brasil – e foi o primeiro japonês a ser doutor no país

Agrônomo atuou como pesquisador científico no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), onde chefiou a Seção e a Assessoria Técnica, aposentando-se em 1985

Plantio de soja (CNA/Senar/Divulgação)

Plantio de soja (CNA/Senar/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 19 de abril de 2025 às 06h05.

Se a soja é hoje uma das principais commodities brasileiras é porque inúmeros produtores, pesquisadores e profissionais vislumbraram um futuro de abundância para uma cultura que, à primeira vista, parecia inadequada para o Brasil. Um desses profissionais foi Shiro Miyasaka, que apostou no grão e contribuiu de maneira significativa para o crescimento da soja no país.

Natural de Hokkaido, no norte do Japão, Miyasaka chegou ao Brasil aos oito anos. Formado em 1951 pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq), ele se tornou, em 1959, o primeiro japonês a obter doutorado em agronomia no Brasil.

O agrônomo atuou como pesquisador científico no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), onde chefiou a Seção e a Assessoria Técnica, aposentando-se em 1985. Além disso, foi membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Miyasaka também coordenou, em 1971, a Primeira Reunião Nacional de Feijão, que reuniu mais de 700 pesquisadores e técnicos do Brasil e de outros países. Ele foi ainda fundador da Associação dos Produtores de Agricultura Natural.

Shiro Miyasaka e a Campanha de Expansão da Soja

Um dos maiores feitos de Miyasaka foi sua contribuição para a introdução da soja no Brasil. Ele participou ativamente da Campanha de Expansão da Soja e, em 1981, escreveu o livro A Soja no Brasil.

"Tenho orgulho de ter participado do trabalho inicial de implantação da soja no Brasil. Hoje, de um lado, vemos os maravilhosos resultados dessa cultura na economia brasileira, mas, por outro lado, vemos que estamos pagando um preço alto por esse sucesso", afirmou o agrônomo na obra Manejo da Biomassa e do Solo, Visando à Sustentabilidade da Agricultura Brasileira, de 2008, na qual foi coordenador.

Segundo o livro Ana Maria Primavesi: Histórias de Vida e Agroecologia, de Virgínia Mendonça Knabben, Miyasaka foi essencial para a introdução e adaptação da soja no Brasil, tornando-se uma referência em agricultura agroecológica.

O interesse de Miyasaka pela agricultura orgânica surgiu após ele assistir a uma palestra da agrônoma Ana Maria Primavesi enquanto trabalhava no IAC.

"Comecei a atuar conforme a minha consciência e a participar de todo o movimento dela. Ao contrário do que diziam, a agricultura orgânica não era empírica, sem base científica", afirmou Miyasaka em entrevista.

Agricultura regenerativa

Após sua aposentadoria, foi professor por dois anos na Universidade de Tsukuba, no Japão, onde se especializou em agricultura regenerativa e sustentabilidade.

Em 2010, Miyasaka foi destacado como uma das 25 personalidades que revolucionaram os rumos da agropecuária brasileira, em uma enquete organizada pela revista Globo Rural.

O agrônomo faleceu aos 92 anos, em julho de 2017.

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