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No país do agronegócio, comer em casa ficou mais barato com a primeira deflação desde 2017

Aumento da safra agrícola e redução no custo dos insumos contribuíram para o desempenho do preço dos alimentos nos lares retrair, como mostra o IPCA divulgado nesta quinta-feira

IPCA 2023: a comida nos supermercados alcançou redução de -0,52% (Germano Lüders/Exame)

IPCA 2023: a comida nos supermercados alcançou redução de -0,52% (Germano Lüders/Exame)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 11 de janeiro de 2024 às 17h08.

Última atualização em 11 de janeiro de 2024 às 17h37.

 Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou 2023 com variação acumulada de 4,62%, abaixo dos 5,79% registrados em 2022. Alimentação e bebidas, grupo de maior peso no IPCA, subiu 1,03% no ano. Apesar da ligeira alta, comer em casa ficou mais barato, marcando a primeira deflação de alimentos consumidos nos lares desde 2017, segundo a série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

A comida nos supermercados alcançou redução de -0,52%. Já a alimentação fora do domicílio subiu 5,31%, em que a refeição teve aumento de 4,34%, enquanto fazer um lanche ficou 7,24% mais caro.

Os principais itens para a baixa foram a deflação do óleo de soja (-28,00%), do frango em pedaços (-10,12%) e das carnes (-9,37%). André Almeida, gerente do IPCA, explica que o grupo de produtos alimentícios ficou abaixo do resultado geral e ajudou a segurar o índice de 2023.

"Houve quatro quedas seguidas no meio de ano, o que contribuiu para esse resultado. A queda na alimentação no domicílio reflete as safras boas e a redução nos preços das principais commodities no mercado internacional, como a soja e o milho”, ele diz.

Os preços do óleo de soja recuaram em dez dos 12 meses de 2023, enquanto os preços das carnes e do frango em pedaços caíram de janeiro a setembro.

Impacto do clima

O clima também foi decisivo para o desempenho dos preços. Almeida afirma que o aumento da temperatura e o maior volume de chuvas em diversas regiões do país influenciaram a produção dos alimentos, principalmente dos in natura, como os tubérculos, hortaliças e frutas. A cebola, por exemplo, teve redução de -28,95%, a batata inglesa de -12,52% e o tomate de - 7,38%, ambos no acumulado de 2023.

Também nesta semana, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou que, entre dezembro de 2022 e dezembro de 2023, o valor da cesta básica diminuiu em 15 das 17 capitais pesquisadas.

O óleo de soja teve o valor reduzido em todas as cidades. As variações negativas ficaram entre -33,04%, em Curitiba, e -22,65%, em Fortaleza.

"Depois da alta nos anos anteriores, a queda ocorreu porque a produção brasileira e mundial de soja bateu recorde em 2023 e conseguiu cobrir a menor oferta em outros países, como os EUA. O excesso de grãos reduziu o preço, também do óleo de soja, apesar da firme demanda externa", aponta o Dieese em nota.

As principais reduções acumuladas, entre dezembro de 2023 e dezembro de 2022, foram registradas em Campo Grande (-6,25%), Belo Horizonte (-5,75%), Vitória (-5,48%), Goiânia (-5,01%) e Natal (-4,84%). Já as taxas positivas acumuladas ocorreram em Belém (0,94%) e Porto Alegre (0,12%).

Ipea

Os dados mais recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) já haviam mostrado que a trajetória deflação nos alimentos em domicílio em 2023.

"Por certo, mesmo diante de uma aceleração na margem, no acumulado do ano, a queda dos preços dos alimentos chega a 1,8%, contrastando fortemente com o observado no mesmo período de 2022 (12,4%)", afirma o Ipea em carta publicada em dezembro, sobre o quarto trimestre de 2023.

As maiores pressões, em 2023, vieram dos reajustes dos cereais (0,46 p.p.), das frutas (0,33 p.p), das hortaliças (0,31 p.p.) e dos panificados (0,31 p.p.). Em contrapartida, o impacto vindo das quedas nos preços das carnes (-1,7 p.p.), das aves e ovos (-0,67 p.p) e dos tubérculos (-0,62 p.p.) foram os principais pontos de alívio sobre a inflação dos alimentos de janeiro a novembro.

Para 2024, o Ipea indica aceleração dos preços dos alimentos tanto no atacado quanto no varejo, mesmo diante da estabilidade de commodities agrícolas e da taxa de câmbio.

"Além de uma projeção de safra 2,8% menor que a observada em 2023, os impactos do El Niño também podem prejudicar a produção de frutas, verduras e legumes, gerando uma pressão adicional sobre os preços dos alimentos. Desse modo, as altas projetadas para a inflação desse grupo, em 2024, medida pelo IPCA, é de 3,9%", afirma trecho do documento.

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