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Banco Mundial: são necessários cerca de US$ 350 bilhões de dólares para transformar o sistema alimentar global (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Agro
Publicado em 6 de dezembro de 2023 às 05h41.
Dubai, Emirados Árabes – Programações simultâneas, em diferentes pavilhões e dias consecutivos. A COP28 abrange muitas vozes e temáticas ao redor da mudança climática, mas uma em especial tem ganhado proporção inédita em meio às discussões: a agricultura regenerativa.
Pela primeira vez na história da Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP), os sistemas alimentares são mais debatidos e, junto a isso, a forma de regenerar os solos do Planeta Terra para plantar, criar e colher.
Discutir este assunto no evento organizado pela Organização das Nações Unidas é a chancela de que os países com atividade agropecuária precisam aprimorar o uso do solo para uma produção responsável. O que também faz refletir sobre como os países que importam os alimentos devem contribuir para financiar esta agenda. Em resumo, como o Hemisfério Norte irá aportar recursos para os grãos, frutas, vegetais do Sul Global.
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A presidência da COP28 anunciou que 134 líderes mundiais assinaram uma declaração histórica sobre agricultura, alimentação e ação climática. Também foi anunciada uma nova parceria entre os Emirados Árabes e a Fundação Bill e Melinda Gates de mais de US$ 2,5 milhões para financiar a segurança alimentar e simultaneamente combater as alterações climáticas.
“Não há caminho para alcançar os objetivos do Acordo Climático de Paris e manter o aquecimento em 1,5° C, que não aborde urgentemente as interações entre sistemas alimentares, agricultura e clima”, disse Mariam bint Mohammed Almheiri, ministra das Alterações Climáticas dos Emirados e líder de Meio Ambiente e Sistemas Alimentares da COP28.
Para tudo isso, no entanto, “não é preciso reinventar a roda”, diz Elizabeth Nsimidala, membro do World Farmers’ Organization. Representante do continente africano, ela afirma que os produtores rurais têm procurado cultivar com práticas sustentáveis há anos, à medida que dependem da fertilidade da terra para renda e consumo.
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“A regeneração do solo nada mais é do que respeitar o ciclo da natureza e temos feito isso há décadas. É necessário entender o perfil de cada produção rural, a realidade dos agricultores, e então contribuir para que a sustentabilidade que já praticamos ganhe escala”, afirma. Para tanto, é necessário financiamento.
Shaji KV, chairman do Banco Nacional para Agricultura e Desenvolvimento Rural da Índia; Berry Martin, membro do Rabobank e Alvaro Lario, presidente do Fundo Internacional para Desenvolvimento da Agricultura são alguns dos representantes de agentes financeiros nesta COP28. Eles concordam com o fato de que é preciso ter viabilidade financeira dentro da porteira para que as práticas de agricultura regenerativa aumentem.
Para isso, talvez seja necessário voltar um passo atrás, de acordo com a ponderação de Davida Heller, head de sustentabilidade estratégica do banco Citi. Ela acredita que seja necessário compreender, de fato, a realidade dos produtores rurais, sobretudo os de menor porte, e quais os riscos envolvidos na atividade.
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“É possível olhar para oportunidades como as agtechs, que promovem melhor forma de cultivar e sabem como direcionar soluções a estes riscos”, diz.
Quem também fala sobre a relação entre investimento, risco e agricultura é James Stapleton, assessor sênior do Consultative Group on International Agricultural Research. Ele comenta que são necessários cerca de US$ 350 bilhões de dólares para transformar o sistema alimentar global, segundo estimativa do Banco Mundial. Por outro lado, as oportunidades para novos negócios nesta temática podem gerar US$ 4,5 trilhões por ano.
“Isso significa que é preciso entender os riscos do sistema alimentar, da produção e do desperdício, para apoiar pequenos agricultores”, ele afirma durante painel na COP28.
Fora dos corredores da COP28, mas ainda em Dubai, o evento World-Agritech Summit também discutiu a relação entre financiamento e agricultura regenerativa. Novamente, empresas de tecnologia voltadas ao meio rural surgiram como ponte para um financiamento eficiente.
Victoria Pace, vice-presidente da vertical de agtech na multinacional de fertilizantes Yara, afirma que startups surgem no mundo em busca de financiamento, a fim de recuperar a saúde do solo e remodelar o sistema agroalimentar. Como exemplo, ela cita que o estímulo ao uso de biofertilizantes passa por condições de renda do produtor.
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“Estamos criando ferramentas digitais, inclusive no Brasil e Índia, para que o solo seja nutritivo e eficiente. É importante olhar para os dados, usar nossa expertise para ajudar quem não consegue analisar amostras do solo. Com os dados disponíveis, vamos investir na saúde do solo e tentar beneficiar a performance dos agricultores”, diz Pace.
Participante ativa da pauta, a Rede ILPF – entidade brasileira que discute a integração lavoura-pecuária-floresta – faz esta correlação entre práticas conservacionistas do solo e segurança alimentar. Isabel Ferreira, diretora-executiva da organização, afirma que o assunto “nunca visto nas edições anteriores da COP” só irá avançar com a união dos setores privado, público, terceiro setor, academia e produtores rurais.
“Práticas como rastreabilidade, envolvimento de populações locais e preservação devem estar no centro do debate, não somente com metas, mas com apresentação de resultados expressivos nas próximas conferências”, afirma a executiva, em Dubai, nos Emirados Árabes.
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A temática ainda tímida na COP27, no Egito, fica mais evidente na edição da COP28, em Dubai. De acordo com Ferreira, soluções sustentáveis que abarquem todas as esferas – social, ambiental e econômica – devem ser a grande pauta dos próximos anos, cujos avanços na ampliação de adoção são esperados para a COP30, a ser realizada em Belém, no Pará.