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Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 21 de agosto de 2024 às 14h00.
Última atualização em 21 de agosto de 2024 às 15h46.
O café brasileiro invadiu a China e a expectativa é de que invada ainda mais, de acordo com as estimativas do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Em julho, a China importou 51.714 mil sacas de café do Brasil — de janeiro a julho deste ano, o país asiático desembarcou pouco mais de 594 mil sacas do grão brasileiro.
Tradicionalmente, o chá é o tipo de bebida que os chineses mais tomam — são de lá os primeiros registros da bebida, há mais de 3 mil anos. Mas a realidade por lá tem mudado. Na China, um quarto da população, ou 330 milhões de pessoas, consome café — em 2013, esse número girava em torno de 190 milhões.
A maioria dos entusiastas chineses de café é de jovens que trabalham em escritórios, predominantemente mulheres, diz Marcos Mattos, diretor-geral do Cecafé.
“Há uma mudança cultural muito importante na China, no aspecto de globalização. E o café é o símbolo dessa globalização”, diz Mattos. “As cafeterias desempenham um papel crucial nesse contexto. O país tem cerca de 50 mil estabelecimentos, um número expressivo que reflete o investimento em indústrias de torrefação e moagem.”
O Brasil é o maior produtor global de café — a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) afirma que o país colheu 55 milhões de sacas em 2023/2024, seguido de longe por Colômbia e Vietnã.
Entre as safras 2019/2020 e 2024/2025, o consumo de café no país asiático cresceu mais de 60%, de acordo com o Cecafé. A expectativa é de que as exportações para o gigante asiático saltem neste ano civil, como mostram dados obtidos com exclusividade pela EXAME em parceria com o Cecafé.
Segundo o levantamento, as exportações brasileiras de café para a China em 2024 vão alcançar 2,5 milhões de sacas, um aumento de 65% em relação ao ano passado, quando o país exportou 1,5 milhão de sacas.
O valor total deverá atingir US$ 525 milhões, um crescimento de 64% na comparação com 2023. Neste ano, o Brasil assinou um memorando de entendimento (MOU) com a Luckin Coffee, a maior rede de cafeterias da China e também a principal importadora de café brasileiro no país, com mais de 16 mil lojas espalhadas por lá.
O acordo prevê a compra de aproximadamente 120 mil toneladas de café brasileiro pela rede, no valor de cerca de US$ 500 milhões.
“Isso demonstra que o Brasil, como maior produtor e exportador de café do mundo, está abrindo mercados e fortalecendo sua presença na China”, afirma Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio.
Além disso, há um acordo entre os países que permite a condução direta de transações comerciais e financeiras entre eles, trocando yuan por reais, em vez de usar o dólar dos Estados Unidos, o que impulsiona ainda mais o comércio e o investimento bilaterais, destaca Cogo.
Na safra 2023/24 — que começou em 1o de julho de 2023 e se encerrou em 30 de junho de 2024 —, a China foi o sétimo destino das exportações brasileiras de café ao adquirir 1,646 milhão de sacas, um salto de 186,1% ante a temporada 2022/23. No total do referido ciclo, o Brasil embarcou 47,3 milhões de sacas, alta de 32,7%.
Mesmo com perspectivas promissoras, há desafios a serem superados, como as mudanças climáticas e os gargalos logísticos do Brasil. Em março deste ano, chuvas volumosas atingiram áreas de produção de café conilon no Espírito Santo e no sul da Bahia, enquanto no ciclo passado a seca foi o fator negativo para essas regiões.
Na questão logística, as limitações do Porto de Santos, que representa 69% de todas as importações e exportações do país, levantam dúvidas sobre a capacidade dos embarques brasileiros. Em julho, 60% dos navios, ou 167 de um total de 277 embarcações, tiveram alteração de escalas ou atraso para exportar café nos principais portos do Brasil.
O maior prazo de espera foi registrado no Porto de Santos: 55 dias entre a abertura do primeiro e do último deadline, mostram dados do Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX em parceria com o Cecafé.
Os entraves, entretanto, não desanimam o setor produtivo, que enxerga a liderança do Brasil intacta no longo prazo.
“O crescimento da China vai impulsionar a demanda por café brasileiro, especialmente por blends. Esse tipo de café continua a dominar o consumo global, e o Brasil, como maior produtor de café do mundo há muitos anos, se mantém nesse pódio sem sinais de declínio”, diz Orlando Editore, head de café na consultoria Datagro. “As perspectivas mostram que o Brasil crescerá mais rapidamente na produção de café do que seus concorrentes.”