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Guerra na Ucrânia transforma comércio agrícola de US$ 120 bi

A guerra iniciada pela Rússia tumultuou o comércio mundial de grãos, que movimenta US$ 120 bilhões.

Crop sprayer in field aerial view - Captured by a licensed UAV operator with a permission for aerial work. (Getty Images/Getty Images)

Crop sprayer in field aerial view - Captured by a licensed UAV operator with a permission for aerial work. (Getty Images/Getty Images)

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Bloomberg

Publicado em 5 de abril de 2022 às 21h49.

Por Megan Durisin, Pratik Parija e Irina Anghel, da Bloomberg

No cinturão agrícola da Ucrânia, os silos estão abarrotados com 15 milhões de toneladas de milho da safra de outono. O alimento deveria estar chegando aos mercados mundiais.

Esses estoques representam aproximadamente metade do que a Ucrânia deveria exportar nessa temporada, mas está cada vez mais difícil fazer o milho chegar aos compradores. A guerra iniciada pela Rússia tumultuou o comércio mundial de grãos, que movimenta US$ 120 bilhões.

Esse mercado que já estava abalado por gargalos nas cadeias de suprimentos, encarecimento dos fretes e eventos climáticos agora se prepara para mais turbulência. Ucrânia e Rússia juntas respondem por um quarto do comércio global de grãos e as entregas por esses países estão cada vez mais complicadas, ameaçando causar escassez de alimentos.

A Ucrânia é uma das maiores exportadoras mundiais de milho, trigo e óleo de girassol. O escoamento desses produtos está em grande parte paralisado. As exportações de grãos caíram para 500.000 toneladas por mês, comparado a 5 milhões de toneladas antes da guerra, o que representa perda de US$ 1,5 bilhão, segundo dados oficiais. Os produtos agrícolas da Rússia — líder global na exportação de trigo — ainda estão sendo escoados, mas há dúvidas sobre entregas e pagamentos por cargas futuras.

Os preços dispararam com as interrupções nos fluxos de grãos e oleaginosas — alimentos essenciais para pessoas e animais em todo o mundo. Países que se veem diante da perspectiva de faltar comida tentam encontrar fornecedores alternativos e novos acordos comerciais estão surgindo.

A Índia tradicionalmente mantinha sua gigantesca produção de trigo no mercado doméstico por meio de um mecanismo de preço. Agora, o país está distribuindo quantias recordes por toda a Ásia. As exportações de trigo pelo Brasil no primeiro trimestre ultrapassaram de longe o volume vendido para o exterior durante todo o ano passado. Cargas de milho dos EUA estão chegando à Espanha pela primeira vez em cerca de quatro anos. O Egito estuda trocar fertilizantes por grãos da Romênia e negocia trigo com a Argentina.

Esses esforços todos podem não bastar, segundo Dan Basse, presidente da firma de pesquisas agrícolas AgResource. “Podemos mover as peças do tabuleiro hoje”, mas haverá problemas se o conflito se prolongar até o verão no Hemisfério Norte, quando as exportações de trigo do Mar Negro historicamente se aceleram. “É quando o mundo começará a enfrentar escassez”, afirmou Basse.

Com o choque da guerra, os contratos futuros de milho e trigo em Chicago acumulam alta de mais de 20% desde o início do ano.

Os preços dos alimentos já estão em patamar recorde e a Organização das Nações Unidas alertou que podem subir mais 22%. Uma grande queda nas exportações do Mar Negro pode deixar mais 13,1 milhões de pessoas desnutridas, segundo a ONU, agravando a fome em um mundo que ainda sofre com os efeitos da pandemia.

Comércio no Brasil

O Brasil é importador líquido de trigo, mas a expectativa é que as exportações do produto atinjam o maior volume em uma década. O baixo nível das hidrovias na Argentina dificultou o escoamento e desviou demanda para o Rio Grande do Sul. A colheita abundante, o real desvalorizado e o atraso da safra de soja favorecem as vendas de trigo brasileiro, explicou Walter Von Muhlen Filho, trader da Serra Morena Commodities.

A exportação de trigo pelo Brasil no primeiro trimestre provavelmente chegou a 2,1 milhões de toneladas, quase o dobro de todo o volume embarcado em 2021. Turquia, África do Sul e Sudão receberam trigo brasileiro pela primeira vez em pelo menos quatro anos, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior.

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