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Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 15 de outubro de 2024 às 17h41.
Última atualização em 15 de outubro de 2024 às 17h44.
O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), sinalizou que deve sancionar o projeto de lei estadual que restringe a concessão de benefícios fiscais a empresas envolvidas na moratória da soja, mas apontou que avalia o caso "com cautela". "Há uma grande probabilidade de que eu concorde com o projeto, mas isso dependerá de uma análise cuidadosa", afirmou Mendes à EXAME .
A declaração acontece em meio ao debate sobre um projeto de lei, aprovado pela Assembleia Legislativa do Mato Grosso (ALMT), que proíbe a concessão de benefícios fiscais a empresas que participem de "acordos, tratados ou quaisquer outros compromissos, nacionais ou internacionais, que imponham restrições à expansão da atividade agropecuária em áreas não protegidas por legislação ambiental específica, sob qualquer forma de organização ou finalidade alegada". Agora, o projeto depende de sanção ou veto do governador do estado. O prazo para a decisão é até o final do mês.
Desde 2006, vigora no Brasil a chamada moratória da soja, um compromisso firmado entre produtores, tradings e organizações ambientais no Brasil, com o objetivo de impedir a compra de soja cultivada em áreas desmatadas na Amazônia após 2008 – a iniciativa busca proteger a floresta amazônica e promover a produção sustentável, desencorajando o desmatamento ilegal para o cultivo de soja.
Segundo Mendes, nenhuma empresa pode desconsiderar o Código Florestal Brasileiro, que, segundo ele, é "um dos mais rígidos do mundo", e estabelecer suas próprias regras, impondo-as a setores importantes como o agronegócio.
O governador matogrossense afirmou que avaliará o contexto da lei aprovada, mas adiantou sua discordância em relação à criação de restrições que violem a legislação brasileira.
"Tenho defendido que quem realizar desmatamento ilegal no país deve ser penalizado conforme o previsto no artigo 243 da Constituição, que determina o perdimento da terra. Quem desmata além dos limites estabelecidos pela lei perde a terra, assim como aqueles que plantam ou produzem cocaína e maconha", disse Mendes.
Procurada, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), entidade que representa e exporta soja no país, disse que não se manifestaria, e que aguardará a sanção do projeto pelo governador do Mato Grosso.
A proposta faz parte de uma ofensiva do setor produtivo contra a moratória da soja no Mato Grosso, o principal estado produtor do grão no país. Rondônia aprovou uma medida semelhante; no entanto, sua representatividade na produção de soja no Brasil é baixa.
A proposta aprovada pela ALMT bloqueia incentivos a empresas que "implementem políticas que limitem o exercício do direito à livre iniciativa ou que restrinjam a oferta de determinados produtos" no estado de Mato Grosso e que "restrinjam a utilização de áreas produtivas, prejudicando o crescimento econômico dos municípios do estado".
A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) do Mato Grosso tem se mobilizado para revogar a moratória da soja. Segundo os produtores, o acordo traz mais prejuízos do que benefícios – a principal queixa do setor é que a moratória impede a comercialização da soja cultivada em áreas desmatadas legalmente.
Para a entidade, não há justificativa para que empresas exportadoras apliquem as regras de um único mercado comprador a toda a base de produtores. "Respeitamos a soberania deles e eles respeitam a nossa; nada mais justo", afirmou Lucas Costa Beber, presidente da entidade, em nota.
Ele destacou a necessidade de "virar logo essa página de abusos econômicos e discriminação de municípios, que persiste desde 2006, com a criação da Moratória da Soja".
Em julho, a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados promoveu uma audiência pública sobre a moratória da soja.
De acordo com o relatório do Grupo de Trabalho da Soja (GTS), formado por empresas associadas às duas entidades, desde que a moratória foi estabelecida, apenas 1,2% do desmatamento da Amazônia foi causado pelo plantio de soja.