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Frete agrícola pode subir até 12% em 2025 e pressionar — ainda mais — preço dos alimentos

Aumento no preço do diesel e escassez de motoristas pressionam custos do transporte na safra 2024/25

Caminhão carrergado com soja em Mato Grosso
18/03/2004
REUTERS/Paulo Whitaker (REUTERS/Paulo Whitaker/Reuters)

Caminhão carrergado com soja em Mato Grosso 18/03/2004 REUTERS/Paulo Whitaker (REUTERS/Paulo Whitaker/Reuters)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 21 de fevereiro de 2025 às 11h12.

Os fretes vão ficar mais caros, e isso deve pesar no preço dos alimentos. Um levantamento da Frete.com, plataforma que conecta empresas a caminhoneiros autônomos, aponta que os fretes agrícolas podem subir até 12% em 2025, puxados pelo aumento da demanda e a falta de caminhões.

Segundo Federico Vega, CEO da plataforma, o aumento dos custos é resultado de uma "tempestade perfeita", que combina, além das questões que envolvem oferta e demanda, a alta nos preços de pneus e combustíveis com a falta de caminhoneiros.

“O reajuste pode ficar entre 7% e 12% por quilômetro rodado e a expectativa é que o pico da demanda ocorra em março”, diz o diretor.

Com uma projeção de aumento de preços, a Frete.com alerta que o impacto no mercado pode ser sentido na elevação dos preços dos alimentos ao longo de 2025, um reflexo das dificuldades no transporte de grãos — o custo do frete representa, em média, 15% do preço final dos produtos, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Em 2024, os preços dos fretes do agro subiram 4% em relação ao ano anterior. Para 2025, a tendência é de mais alta porque haverá maior volume de cargas e menos caminhões disponíveis.

"Este ano, esperamos uma competição acirrada pelas cargas, com empresas disputando o mesmo caminhoneiro, o que naturalmente aumenta os preços", diz o CEO.

Ele ressalta, no entanto, que há mais variáveis que podem alternar as previsões iniciais. Neste ano, por exemplo, o atraso na colheita da soja no Mato Grosso, uma das principais regiões produtoras do país, tem concentrado a demanda por transporte em um período mais curto, gerando um gargalo logístico.

A colheita da soja no estado atingiu 50,08% da área, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), abaixo dos 65,07% registrados no mesmo período da safra passada.

"O Mato Grosso é um exemplo de estado que pode sofrer com os aumentos, pois há um grande volume de carga sendo transportado ao mesmo tempo", diz Vega.

Os dados da Frete.com mostram que os preços dos fretes agrícolas subiram 1% em janeiro de 2025 em comparação com o mesmo mês de 2024, mas a tendência é de alta para os próximos meses por causa do pico projetado.

Além da alta concentração da colheita, existe um impacto do reajuste do diesel. No final do mês passado, a Petrobras anunciou um aumento de R$ 0,22 no preço do diesel, o que representa uma alta de 6,29%, o que pode gerar efeitos em cadeia na economia.

Como o combustível é essencial para abastecer caminhões, que transportam mais da metade da carga no Brasil, o reajuste pressiona o frete rodoviário. E a tendência é de que a alta se mantenha.

“Fatores como a tributação sobre o setor, principalmente o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), e a revisão para cima da tabela de frete também devem pressionar ainda mais os custos do transporte nas próximas semanas”, diz Vinicios Fernandes, diretor da Edenred Repom, empresa especializada em gestão e pagamento de fretes para o setor de transporte rodoviário.

Comportamento dos preços do frete no Mato Grosso e Paraná

Segundo a Datagro Consultoria, os custos do frete rodoviário subiram nas últimas semanas com o avanço da colheita da safra de verão. No Paraná, onde 30% da área de milho já havia sido colhida até 14 de fevereiro, a demanda por transporte pressionou os preços.

O valor médio do frete entre Maringá e o porto de Paranaguá variou entre R$ 105 e R$ 115 por tonelada em janeiro, um aumento de 5% a 15% em relação a dezembro de 2024. No caso da soja, que já teve 40% da safra colhida, a alta foi ainda maior e chegou a 30% no mês passado.

No Mato Grosso, onde 50,8% da soja já foi colhida, os reajustes no frete foram menores. Diferentemente do Sul, onde soja e milho são colhidos praticamente ao mesmo tempo, no Mato Grosso o milho é plantado após a colheita da soja, o que reduz a concorrência por caminhões — o fator ajuda a evitar aumentos expressivos no valor do frete, mantendo os preços mais estáveis na região, por enquanto.

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