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Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 18 de janeiro de 2025 às 06h59.
As exportações de café brasileiro para a China desaceleraram em 2024. No ano passado, 988 mil sacas foram embarcadas para o país asiático, uma queda de 35% em relação a 2023, quando foram exportadas 1,5 milhão de sacas, segundo dados do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Uma frustração e tanto. A expectativa inicial da entidade era de que o Brasil exportasse 2,5 milhões de sacas de café para a China em 2024, o que representaria um crescimento de 65% em relação a 2023.
Para Márcio Ferreira, presidente do Cecafé, dois fatores principais explicam o recuo nos embarques para a China: problemas logísticos nos portos brasileiros e altos estoques de café no país asiático.
“Até junho de 2024, a China estava em um processo de crescimento nas importações. Mas, a partir de julho, o volume caiu significativamente, retirando o país da lista dos 10 maiores compradores de café do Brasil. No entanto, em dezembro, o mercado chinês deu sinais de recuperação, com um volume de compras expressivo”, diz Ferreira.
A logística, inclusive, tem sido um dos principais gargalos para os exportadores de café. Segundo um levantamento do Cecafé, iniciado em junho de 2024, 27 empresas associadas — responsáveis por 75% das exportações de café do Brasil — acumularam um prejuízo de R$ 42 milhões até novembro.
Os custos adicionais incluem detentions, pre-stacking, antecipação de gates e armazenagens extras, referentes a 1,6 milhão de sacas de café (o equivalente a 4.895 contêineres) que ficaram paradas nos portos entre janeiro e novembro de 2024, aguardando embarque.
"Atualmente, não temos portos capazes de otimizar o transporte de café. Quando tivermos essa infraestrutura, será possível embarcar café e, em 30 ou 40 dias, ele estará na China. Hoje, esse processo pode levar até três meses", afirma o executivo.
O presidente do Cecafé pontua que a demora em embarcar os grãos de café pode ocasionar um acúmulo momentâneo de estoques, gerando custos financeiros para armazenar o café, o que pode levar a uma redução temporária no volume de importações.
Apesar das oscilações, o mercado chinês é visto como promissor e em processo de amadurecimento pelo setor cafeeiro. Ferreira compara o crescimento do consumo de café na China ao que ocorreu décadas atrás no Japão, quando a bebida foi gradualmente incorporada aos hábitos locais.
Em novembro de 2024, o Brasil fechou uma parceria inédita com a rede de cafeterias chinesa Luckin Coffee, que prevê o fornecimento de 240 mil toneladas de café entre 2025 e 2029.
“Considerando o tamanho da população chinesa e o aumento da classe média, o potencial de consumo é gigantesco”, afirma Ferreira.
Ainda que fatores econômicos ou outros motivos possam causar variações no consumo o acordo reflete uma tendência de aumento na procura por café na China, avalia o presidente.
Embora o chá ainda seja a bebida mais consumida no país asiático — com registros históricos que remontam a mais de 3 mil anos —, o cenário está mudando. Atualmente, um quarto da população chinesa, cerca de 330 milhões de pessoas, consome café. Em 2013, esse número era de 190 milhões.
Na safra 2023/24 — entre 1º de julho de 2023 e 30 de junho de 2024 —, a China foi o sétimo maior destino das exportações brasileiras de café, adquirindo 1,6 milhão de sacas, um crescimento expressivo de 186,1% em relação à temporada 2022/23.
No mesmo período, o Brasil exportou um total de 47,3 milhões de sacas, um aumento de 32,7% em comparação à safra anterior, consolidando sua posição como o maior exportador global de café. Para a atual temporada 2024/25, no entanto, a Cecafé não tem estimativas.
No ano passado, o Brasil bateu recorde nas exportações de café, com o envio de 50,4 milhões de sacas, um crescimento de 28,5% em relação a 2023. Os embarques renderam US$ 12,5 bilhões ao país em 2024, estabelecendo também um recorde histórico.
O desempenho foi impulsionado pelos embarques de café verde e solúvel, que registraram uma alta de 55,4% em comparação ao ano anterior.
Os Estados Unidos foram o principal destino do café brasileiro em 2024, importando 8,1 milhões de sacas, o que representou 16% do total exportado e um crescimento de 34% em relação a 2023.
A Alemanha ocupou o segundo lugar no ranking, adquirindo 7,5 milhões de sacas, equivalente a 15% de participação e um avanço de 51%. Na sequência, destacaram-se: Bélgica: 4,3 milhões de sacas (+96,4%); Itália: 3,9 milhões de sacas (+25%) e Japão: 2,2 milhões de sacas, com uma queda de 6,3%.