Apoio:
Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola: produção brasileira pode chegar a 600 milhões de toneladas em 20 anos (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 23 de outubro de 2024 às 06h06.
Última atualização em 23 de outubro de 2024 às 09h18.
No final de setembro, a SLC Agrícola, produtora de commodities como soja, algodão e milho, anunciou que pretende ampliar em 11,4% a área plantada na safra 2024/25, totalizando 736,9 mil hectares. Desse montante, 51,5% será destinado à soja, 26,3% ao algodão, 16,1% ao milho, e o restante será dividido entre outras culturas.
O otimismo da companhia com a atual temporada é liderado pelo CEO, Aurélio Pavinato, que, desde o início do novo ciclo, afirmou que, se o clima colaborar, o Brasil terá uma safra positiva, com possibilidade de atingir recordes. Nem mesmo a seca prolongada, que atrasou o plantio da soja no Mato Grosso — principal estado produtor do grão no país —, abalou a visão do executivo.
“A perda da soja ainda não pode ser considerada, já que a soja plantada em outubro costuma ter uma boa produção. O impacto maior será no sistema de plantio”, disse ele à EXAME.
Não é apenas na perspectiva de produtividade que o CEO espera bons resultados. Na visão do executivo, a safra 2024/25 também deve ser marcada por uma redução nos custos de produção, o que pode garantir margens melhores para os produtores, em linha com as projeções de diversas consultorias agrícolas.
"Tendo alta produtividade, conseguimos ter uma margem mais próxima do normal também. Teremos uma rentabilidade não no patamar atual, mas superior ao patamar atual, porque na safra anterior tivemos quebra de safra", disse Pavinato.
O Brasil deve bater recorde na produção de grãos na safra 2024/25, com uma produção estimada de 322,47 milhões de toneladas. Se confirmado, esse número representará um aumento de 8,3% em relação à temporada anterior, segundo a primeira estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
No caso da soja, a Conab projeta uma safra de 166,05 milhões de toneladas, enquanto o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima 169 milhões de toneladas para o grão brasileiro. Para Pavinato, tudo dependerá do clima deste mês.
"Ao longo de outubro, haverá um ajuste nas áreas destinadas a essas culturas — algodão, milho e soja — e, se o atraso persistir, poderá haver uma redução significativa na produção de uma delas, forçando os produtores a fazer escolhas estratégicas, como plantar menos soja", afirmou Pavinato.
Mesmo otimista, o CEO reconhece que os extremos climáticos têm trazido muita incerteza para o produtor. Em uma safra que deve ser marcada pelo La Niña, previsto para chegar ao Brasil em novembro, segundo a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), órgão climático dos EUA, Pavinato acredita que as previsões do tempo estão menos certeiras, apesar dos avanços nas tecnologias relacionadas ao clima.
"Por isso, o clima é uma incerteza. A todo momento ele se mostra mais imprevisível, e essa é a conclusão a que chegamos hoje. Sempre há dúvidas sobre como será o clima: ele vai se comportar de acordo com a previsão ou de forma diferente? É isso que temos vivenciado", disse.
Na temporada 2023/24, que começou em 1º de julho de 2023 e foi até 30 de junho de 2024, a expectativa do mercado era de que o Brasil batesse recorde com uma produção de soja que ultrapassasse com folga os 150 milhões de toneladas — a Conab diz que o país colheu 147,38 milhões de toneladas.
Uma das principais questões para quem produz no Brasil é a cultura de segunda safra, geralmente plantada entre janeiro e março em alguns estados produtores. O agricultor costuma optar entre plantar milho ou algodão, e essa escolha depende tanto da rentabilidade esperada de cada cultura quanto do estado em que ele produz.
"Nesse caso, entre plantar milho ou algodão, o algodão acaba sendo a cultura mais rentável, pois o milho, com os preços atuais no Mato Grosso, não está gerando rentabilidade. Assim, essa decisão entre milho e algodão favorece o algodão", disse Pavinato. O Mato Grosso é um dos principais produtores de milho do Brasil e, na safra passada, colheu 48,1 milhões de toneladas.
No caso da soja, as margens já apertadas do produtor podem levar ao plantio de algodão, principalmente na Bahia, um importante polo da fibra. "Hoje, ambas as culturas, algodão e soja, estão com margens apertadas, então a decisão depende muito da estrutura que o produtor tem", afirmou Pavinato.