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Colheita no campo: o agronegócio fechou o ano com a maior participação no PIB desde 2004 (Alexis Prappas/Exame)
Embora represente aproximadamente 1/3 da economia brasileira, o agronegócio nacional possui gama de desafios complexos que devem ser resolvidos nos próximos anos se o setor deseja se manter como o carro chefe da economia brasileira.
Enquanto há uma preocupação genuína dos players do setor com o futuro do meio ambiente e as mudanças climáticas, problemáticas mais imediatas sobre produção, infraestrutura, escassez de terras e até mesmo sobre a matriz energética brasileira também devem ser são pontos de atenção.
Nesta quinta-feira, 29, representantes de importantes empresas e organizações ligadas ao agronegócio nacional participam do AgroForum, evento do setor organizado pelo BTG Pactual (mesmo grupo de controle da EXAME) para debater perspectivas e problemáticas do setor do agronegócio brasileiro.
"Queria colocar sob perspectiva que o agro é a vitrine do Brasil para o mundo, e isso deveria ser mais repetido. Uso o desenho simbólico da vitrine como algo atrativo e que todos estão olhando", argumenta José Eduardo Miron, atual presidente-executivo da Frigol e ex-CEO da Marfrig.
Um dos fatores centrais de discussão do painel sobre precificação de terras agrícolas e o próprio mercado de terras foi a expansão das fronteiras agrícolas pelo mundo e seus impactos sobre o valor das terras desse mercado.
Ricardo Faria, presidente do conselho da Granja Faria, uma das maiores produtoras de ovos no Brasil, enxerga que, atualmente, há uma pressão muito grande para abertura de novas fronteiras agrícolas, dada a finidade de terras disponíveis no mundo e uma mudança de caráter produtivo das principais commodities produzidas e exportadas.
"Um grande ponto da apreciação quando falamos do mercado de terras é que precisamos analisar a questão das terras serem finitas, e aquilo que é finito acaba fincando mais disputado", diz Ricardo. "Um ponto na nossa visão é: as principais commodities [milho e soja], até os anos 2000 eram utilizadas apenas para consumo humano e animal, mas com o surgimento das energias renováveis, acabou a se criando uma nova demanda para isso", complementa o executivo.
Ainda segundo Faria, essas novas utilidades do produto agrícola alteraram como a demanda internacional funciona e forçou a ampliação de cultivo dessas commodities. "Cerca de 20% da soja nacional é utilizada para o biodiesel e todo milho importado do Brasil pelos EUA é utilizado para fazer etanol, algo que não acontecia no passado", complementa.
Aliado a isso, segundo coloca André Guillaumon, CEO BrasilAgro, há um outro ponto de atenção: o preço das terras cultiváveis é muito atrelado ao preço das commodities e, no mundo, estamos em um momento de reprecificação desses ativos. Ou seja, em um momento de mudança na demanda dos mercados, há uma alteração significativa nos preços de terras.
Ivo Marco Brum, diretor financeiro da SLC Agrícola, complementa André ao exemplificar esse aumento no valor da terra agrícola com um próprio caso da SLC. Hoje, a companhia possui cerca de R$ 9,7 bilhões em terras. Entretanto, à época do seu IPO, em 2007, a empresa tinha R$ 670 milhões em terras.
"Acreditamos no crescimento do valor desse ativo. Uma alta anual de cerca de 13% no valor da terra, aumento acima de inflação e taxa de juros. E por que isso acontece? Aumenta sim a demanda, lógico, mas a produção aumentou muito mais. E precisamos de mais área para manter essa produção agora", exemplifica Marco.
"O custo do hectare alto é por conta da demanda por espaço, e ainda há muito espaço para essas áreas no Brasil, mas a escassez vai chegar alguma hora. Isso tudo coloca bastante pressão de preço. Vemos um aumento de valor de terra por pelo menos os próximos 10 anos", complementa.
Para os representantes do agro brasileiro no evento, há uma posição unânime: o Brasil precisa urgentemente de mais planos de investimento em questões de logística, que incluem o asfaltamento de pistas para escoar a produção das fazendas e a construção/melhoria dos terminais portuários do país, até mesmo a construção de infraestrutura de comunicação para que essas fazendas possam se conectar ao mundo digital e, principalmente, por conta da tecnologia 5G - que já chegou em peso no campo brasileiro e tem mudado a realidade de diversas fazendas.
"Vejo que nosso grande gargalo é a falta de compromisso do poder publico com o desenvolvimento. Somos largados sozinhos para fazer centenas de quilômetros de estradas em regiões complexas, além de problemas graves de logísticas nos portos dessas fronteiras agrícolas", opina Faria.
Para Guillaumon, da BrasilAgro, o Brasil deve enfrentar essas questões de uma forma oposta a qual vem fazendo até agora.
"O que falta é pensar de forma estratégica. O ponto logístico não deve ser problema de governo, mas sim um problema de estado. Vemos muito no agronegócio problemas imediatos de governos. Logística e infraestrutura são problemas sérios de estado para longo e médio prazo, não são coisas que serão resolvidas em quatro anos ou um mandato", argumenta André.
Marco, da SLC, ainda acredita que essa questão é potencialmente mais problemática quando olhamos para as novas fronteiras do agronegócio brasileiro, formada por parte dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí, Sergipe, Alagoas e nordeste da Bahia.
"A logística é um ponto super critico e as nova fronteiras possuem uma infraestrutura pior e deficitária. Problemas logísticos no arco norte são reais, mas estamos trabalhando nisso. Hoje, não vemos mais aquelas filas intermináveis no Porto de Santos [Santos, (SP)] para exportação, justamente por esse investimento nos portos do norte", exemplifica.
Olhar com cuidado e atenção para as políticas de ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance), que define as melhores práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa, é um ponto em comum entre os players do setor.
Hoje, os pilares que sustentam o ESG já são tratados como regra unânime em qualquer empresa que queria criar um mercado consumidor e, principalmente, tenha pretensão de competir no mercado internacional.
"Como qualquer outra empresa, precisamos estar próximos ao cliente, não é porque produzimos commodities que podemos fechar os olhos para as demandas sociais latentes no mundo atual. Queremos ouvir o consumidor e os anseios do mercado, para trazer esses pilares para dentro do negócio", explica Ricardo da Granja Faria.
Para Guillaumon, da BrasilAgro, é também importante destacar que o agronegócio tem, como setor produtivo, uma vantagem quando falamos de ESG.
"A nossa indústria sai na frente no ESG. A maneira mais eficiente de tirar carbono da atmosfera é através de plantas", argumenta o diretor-executivo da companhia.
Miron, ex-CEO da Marfrig e atual CEO da Frigol, destaca que o dever de atuar em prol de políticas que conversem diretamente com as diretrizes do ESG deve partir de cooperação de diversos atores.
"Precisamos da participação da academia, da indústria, dos fornecedores, do governo, só assim conseguiremos atingir resultados melhores. Sinto que ainda temos que buscar que não são apenas as três grandes empresas do agro que estão buscando essa transformação, mas sim todo o ecossistema do agro brasileiro como um todo", complementa.
Do outro lado, Miron também destaca que os compromissos da agenda ESG são globais e demandam de cooperação mútua desses atores, que podem estar em lados opostos nas prateleiras de produtos. Ou seja, ainda que competidores de mercado, essas companhias devem se ajudar quando o assunto é ser sustentável.
"Na parte do agro, temos que reduzir o pensamento de que a sustentabilidade é um fator de competição. A sustentabilidade deve ser um fator de colaboração dentre todos os atores", complementa.
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