(AGRISHOW/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 30 de abril de 2025 às 15h55.
Última atualização em 30 de abril de 2025 às 16h46.
RIBEIRÃO PRETO* Não foram apenas a chuva e o clima mais fresco que chamaram a atenção dos frequentadores da 30ª edição da Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). Além desses fatores, um tema central tem dominado as discussões entre empresários, mercado e empresas do setor: os juros altos.
Um executivo C-level de uma gigante do setor de máquinas agrícolas, que preferiu não ser identificado, afirmou à EXAME que o sentimento geral é de desânimo por causa da Selic atual em 14,25% ao ano.
"O agricultor está endividado. A última coisa que ele quer neste momento é uma nova dívida", disse ele, em meio a máquinas que garantem aumentar a produtividade e reduzir os custos para o produtor.
A discussão sobre juros altos e margens apertadas tem sido recorrente desde o final da safra 2023/24. A expectativa para a temporada 2024/25 era de um leve alívio, mas isso não se concretizou.
Os atrasos no plantio da soja em alguns estados, que resultaram em uma demora na colheita do grão, fizeram os preços dos fretes dispararem no Brasil. Além disso, a guerra comercial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, eleva as incertezas sobre os preços das commodities em um cenário já instável.
Os juros altos dificultam o acesso dos produtores rurais ao financiamento de máquinas agrícolas, já que muitos dependem de empréstimos para adquirir esses equipamentos. Com a Selic elevada, o custo das parcelas sobe, tornando o financiamento mais caro e dificultando o pagamento.
"Está difícil para o produtor pagar os empréstimos do passado, e a recuperação pode levar de 2 a 3 safras boas", afirma Carlos Aguiar, diretor de Agronegócios do Santander.
Segundo Aguiar, o agronegócio vive um momento de ressaca, pois os produtores se endividaram consideravelmente nos últimos anos ao tomar crédito barato para investimentos. Com o agricultor já alavancado, tende-se a adiar novos investimentos, especialmente com a perspectiva de que a Selic não deva cair.
"Muitos investimentos foram contratados durante a pandemia a uma taxa de juros de 2% ao ano, e hoje ela está em 15%, o que dificulta o pagamento pelos produtores. A margem do produtor, que era de 40%, hoje está em 25%", diz Aguiar.
A expectativa de Denny Perez, diretor comercial da Case IH, é de que o volume de negócios da marca da Agrishow deste ano se mantenha no mesmo patamar de 2024. Segundo ele, até o momento, as vendas estão dentro do esperado para o setor.
"Os juros altos acabaram freando muitos agricultores na compra. O agricultor já está alavancado, e isso afeta a decisão de aquisição de maquinário", afirma Perez.
Diante desse cenário, a Case IH buscou alternativas para contornar o impacto financeiro, como a utilização de linhas de financiamento com juros mais baixos, com taxas variando entre 8,5% e 9%.
Além disso, a empresa tem investido no crescimento das operações de consórcio, um modelo que, segundo Perez, registrou um aumento significativo de 15% em relação ao ano passado.
“O consórcio tem se mostrado uma alternativa viável para os agricultores que precisam de máquinas novas, mas sem um custo inicial tão elevado”, afirma o executivo.
Para João Carlos Marchesan, presidente da Agrishow, "com a elevação das taxas de juros, o custo do crédito agrícola se torna muito caro e inviável para o agricultor tomar empréstimos."
No entanto, segundo ele, mesmo em um cenário desafiador, a feira deve registrar um crescimento de pelo menos 8% neste ano. A Agrishow, segundo Marchesan, é vista como um "playcenter do agro", onde as mais recentes inovações tecnológicas são apresentadas.
A estimativa dos organizadores da Agrishow é de que a feira movimente mais de R$ 15 bilhões em intenções de negócios, o que, se confirmado, representará o maior volume já gerado por uma feira agrícola no país. Os números oficiais serão conhecidos apenas na sexta-feira, 2, quando o evento se encerrará.
A indústria de máquinas agrícolas, tratores e colheitadeiras vendeu 3.991 unidades em março, o que representa uma queda de 11,5% em relação ao mesmo período de 2024, segundo dados divulgados nesta quarta-feira, 30 pela Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
No mercado interno, as vendas de máquinas agrícolas em março apresentaram uma redução de 12,8% em comparação com o mesmo mês do ano passado. Por outro lado, no acumulado do primeiro trimestre de 2025, de janeiro a março, foram vendidas 11.997 unidades, o que representa um crescimento de 13% em relação ao primeiro trimestre de 2024.
As exportações totalizaram 403 unidades em março, com um crescimento de 2,8% em relação às 392 unidades exportadas no mesmo mês do ano passado.
No entanto, no acumulado dos três primeiros meses de 2025, as exportações caíram 20%, totalizando 1.038 unidades embarcadas, contra 1.298 unidades no mesmo período de 2024.
*O repórter viajou a convite da Bayer.