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Doença de Newcastle: entenda os impactos da suspensão das exportações da carne de frango do Brasil

Governo brasileiro decidiu aplicar um autoembargo após a confirmação de um caso da doença de Newcastle em uma granja no Rio Grande do Sul, na quarta-feira

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 20 de julho de 2024 às 08h01.

Última atualização em 20 de julho de 2024 às 19h20.

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) suspendeu nesta sexta-feira, 19, as exportações de carne de frango, ovos e outros produtos avícolas de todo o país para os Estados Unidos, China e Argentina – a medida permite apenas o envio de produtos avícolas originados no estado do Rio Grande do Sul para outros destinos internacionais.

A pasta decidiu aplicar um autoembargo após a confirmação de um caso de doença de Newcastle em uma ave de uma granja em Anta Gorda, Rio Grande do Sul, na quarta-feira, 17.

De acordo com a Datagro Pecuária, os embargos afetam principalmente a China, Argentina e União Europeia, países que são importantes destinos para as exportações brasileiras. A suspensão das vendas para a China, em particular, deve representar um desafio significativo devido à sua posição como maior importador da proteína brasileira, abarcando mais de 11% do volume total no primeiro semestre.

"Se considerarmos como choque mínimo potencial de demanda apenas os auto embargos nacionais (principalmente China, mas também incluindo Argentina e EUA), a queda abrupta de demanda seria de ao menos 13% das exportações brasileiras de carnes de aves, o que representaria algo em torno de 4% a 4,5% de toda a produção brasileira de carne de frango projetada para o ano corrente pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)", destacou a consultoria em relatório.

Apesar de embargos regionais como os impostos à África do Sul atingirem apenas produtos de áreas específicas, a suspensão nacional das exportações para o gigante asiático é o principal obstáculo imediato – a ação pode resultar em um excesso de oferta no mercado interno de carne de aves brasileira, pressionando os preços.

"O preço deve refletir mais na semana que vem devido ao embargo, especialmente o autoembargo mais restritivo aplicado ao Rio Grande do Sul. Assim, as operações de exportação devem continuar, com compradores que antes adquiriam produtos do estado voltando-se para outros estados [...] Vamos aguardar para ver como isso se desenrola, mas, no momento, a tendência é de pressão de baixa nos preços", afirma João Otávio Figueiredo, Head de Pecuária da Datagro.

Segundo a consultoria, as medidas sanitárias não devem se prolongar por mais do que algumas semanas, principalmente por conta dependência global crescente da carne de frango brasileira e à situação sanitária menos favorável dos principais competidores, como os EUA.

"A doença confirmada no Brasil até o momento é apenas um foco, enquanto nos EUA segue em curso um verdadeiro surto de gripe aviária, já denotando a primeira das vantagens comparativas da proteína brasileira em relação ao seu principal potencial substituto nesse cenário adverso [...] o Brasil nunca foi tão relevante para o fornecimento global de carne de frango como no presente, representando mais de 1/3 do frango comercializado no mundo segundo projeção do USDA para 2024", diz a Datagro Pecuária.

A doença de Newcastle é transmitida para humanos?

Segundo a Organização Mundial para a Saúde Animal (OMSA), a anomalia é uma doença viral contagiosa que afeta várias espécies de aves, assim como répteis e mamíferos, e até mesmo o homem. A infecção ocorre quando há determinados critérios de virulência, incluindo o índice de patogenicidade intracerebral e a presença de múltiplos aminoácidos básicos.

A principal forma de transmissão do vírus da doença de Newcastle ocorre por meio de aerossóis, que são pequenas partículas no ar provenientes de aves infectadas. Além disso, o vírus pode ser transmitido por meio de produtos contaminados, como equipamentos e alimentos que tiveram contato com aves doentes.

Orientações do Mapa

Nesta sexta-feira, 19, o Mapa revisou preventivamente os Certificados Sanitários Internacionais (CSI) de forma a atender às garantias e os requisitos acordados. As suspensões estão relacionadas a área ou região com impedimento de certificação, que varia desde a suspensão por pelo menos 21 dias para todo território nacional ou até mesmo a restrição circunscrita a um raio de 50Km do foco identificado.

Para países como República Popular da China, Argentina e União Europeia a suspensão vale para todo Brasil. Neste caso, os produtos com restrições são carnes de aves, carnes frescas de aves e seus derivados, ovos, carne para alimentação animal, matéria-prima de aves para fins opterápicos, preparados de carne e produtos não tratados derivados de sangue.

Já do estado do Rio Grande do Sul, ficam restritas as exportações para África do Sul, Albânia, Arábia Saudita, Bolívia, Cazaquistão, Chile, Cuba, Egito, Filipinas, Geórgia, Hong Kong, Índia, Jordânia, Kosovo, Macedônia, México, Mianmar, Montenegro, Paraguai, Peru, Polinésia Francesa, Reino Unido, República Dominicana, Sri Lanka, Tailândia, Taiwan, Ucrânia, União Econômica Euroasiática, Uruguai, Vanuatu e Vietnã.

Entre os produtos estão carne fresca, resfriada ou congelada de aves; ovos e ovoprodutos; carnes, produtos cárneos e miúdos de aves; farinha de aves, suínos e de ruminantes; cabeças e pés; gorduras de aves; embutidos cozidos, curados e salgados; produtos cárneos processados e termoprocessados; e matéria-prima e produtos para alimentação animal.

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