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Laura Vicentini, produtora de mudas pré-brotadas de cana-de-açúcar na Spinagro, em Batatais (SP) (Lucas Pardal/Exame)
Repórter de Agro
Publicado em 19 de outubro de 2023 às 15h22.
Estar em uma região de cana-de-açúcar, como no interior de São Paulo, significa se deparar com quilômetros de estrada cercada pelo mato alto, já que a planta pode alcançar até cinco metros de altura. Como a safra dura quase o ano todo, quem frequenta o trajeto pode achar a paisagem sem graça. Era assim que a produtora rural Laura Vicentini enxergava a cultura — até conhecer as oportunidades de mercado que existem antes que a planta cresça.
Depois de trabalhar por doze anos em usinas como Santa Fé e Raízen, a agrônoma desenvolveu paixão pelo cultivo, mas entendeu que para ter o próprio negócio seria necessário crescer verticalmente, já que aumentar a área produtiva na horizontal — ou seja, ampliando as terras — estava fora de cogitação.
Foi então que, em 2016, apareceu a oportunidade de preencher uma lacuna de mercado em relação à produção de mudas. Logo no ano seguinte, Vicentini e o marido fundaram juntos a Spinagro, uma fazenda de cana-de-açúcar voltada para mudas pré-brotadas.
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Depois de começar a germinar em um local climatizado, os brotos são encaminhados às estufas. Atualmente, são 300 mil plantas. "Produzimos a cana convencional, mas damos um passo atrás. A gente extrai a gema da cana e rebrota para se transformar em mudas, que vão ser vendidas tanto para pequenos produtores quanto a grandes usinas, dando origem a novos canaviais", ela afirma.
Ao receber a EXAME Agro na propriedade de 15 hectares, em Batatais, interior paulista, Vicentini conta que ao longo do ano a empresa gera 4,5 milhões de plantas, que dão origem a 500 novos hectares de cana-de-açúcar.
"Vimos uma demanda específica de mercado por mais variedades de cana. O mecado demanda mudas diferentes, difíceis de encontrar num canavial comercial convencional, e conseguimos atender a depender da destinação para açúcar ou etanol. Começamos com 10 e agora trabalhamos com 40, entre entre clones e variedades lançadas.", diz.
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Além da oportunidade de atender ao mercado que estava desabastecido, a empresária rural também viveu o início da valorização do setor sucroenergético na agenda ambiental. Preocupada com a sustentabilidade ao longo do processo produtivo, o desafio da empresa passou a ser a diminuição do desperdício de resíduos.
"A gente ainda tinha um resíduo que nos doía o coração descartes, que é uma parte nobre da cana. Meu marido deu a ideia de estudarmos a oportunidade de fazer cachaça a partir deste tolete que antes ia para ração de gado", ela diz. Até que, em 2020, os experimentos começaram e foram mais rápidos do que o casal imaginava.
Após a safra teste em 2021 e a safra oficial em 2022, esse ano a empresa começou a comercializar a SôZé Sustainable Cachaça. Segundo Laura Vicentini, esta é a primeira cachaça do Brasil produzida a partir de partes da cana que, para a indústria convencional, não há tanto valor.
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"Em 2023, já estamos acessando países para exportação, levando esse conceito de sustentabilidade, sendo a primeira cachaça advinda de resíduo, e que carrega esse nosso cuidado de produzir mais e de maneira consciente", afirma.
A proximidade entre a área de produção rural e a destilaria própria permite que a bebida já seja envasada dois dias depois do corte da cana no campo. "Por manter o frescor, sem ser envelhecida, é uma cachaça que agrada ao paladar europeu", segundo Vicentini.