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A maior queda no uso de fertilizantes na próxima temporada deve ser vista na África Subsaariana, com um declínio de até 23% (Getty Image/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 22 de agosto de 2022 às 17h40.
Última atualização em 22 de agosto de 2022 às 17h58.
A crise de energia que afeta a produção de fertilizantes da Europa ameaça forçar agricultores ao redor do mundo a usar ainda menos nutrientes cruciais para o cultivo de alimentos.
O aumento dos preços do gás, um insumo essencial, já reduziu 25% da capacidade de fertilizantes nitrogenados da Europa, estima o CRU Group. Agora, aumenta a expectativa de piora da crise. Para a Europa, isso pode significar produção ainda menor e mais dependência das importações de amônia, da qual são feitos os produtos nitrogenados.
Isso também terá impacto indireto em outros segmentos. Diante de preços mais altos e oferta mais apertada, agricultores podem reduzir o uso global de fertilizantes em até 7% na próxima temporada, a maior queda desde 2008, alerta a Associação Internacional de Fertilizantes (IFA). Como consequência, também há o risco de colheitas menores em meio ao aumento do custo de vida e agravamento da fome.
“Se agricultores europeus importarem mais produtos de outros exportadores, então para mercados agrícolas mais frágeis da África subsaariana, sul da Ásia e partes da América Latina, isso tornará o mercado global apertado”, disse Laura Cross, diretora de inteligência de mercado da IFA.
A maior queda no uso de fertilizantes na próxima temporada deve ser vista na África Subsaariana, com um declínio de até 23%, segundo a IFA.
Depois do alívio nos meses anteriores, os preços dos fertilizantes começaram a subir novamente, puxados pelo rali do gás por conta da redução da oferta da Rússia e das ondas de calor na Europa que elevaram a demanda.
Fabricantes de fertilizantes europeus foram os mais atingidos pelos altos preços do gás. O setor global também enfrentou sanções dos EUA e da União Europeia sobre as vendas de potássio da Bielorrússia e a decisão da China de limitar os embarques. Além disso, o comércio de nutrientes russos sofreu com autossanções impostas por muitos transportadores, bancos e seguradoras e dificuldades em atender as exportações russas.
Atualmente, é muito mais barato importar do que produzir amônia na Europa, de acordo com o CRU.
“Não vejo como alguém continua a produzir na Europa, fora aqueles que fizeram hedge” dos custos do gás, disse Chris Lawson, chefe de fertilizantes do CRU. “Prevemos que os preços da amônia continuem a subir.”
A Europa — que produz cerca de 20 milhões de toneladas de amônia anualmente — precisa importar outras 200 mil toneladas por mês para amenizar a crise, de acordo com Lawson. Algum alívio pode vir de embarques da região do Mar Negro nos próximos meses, disse.
Com o aumento dos preços do gás desde junho, “redução e paralisações estão acontecendo novamente”, disse Lukas Pasterski, porta-voz da Fertilizers Europe. “Em princípio, isso levaria a maiores importações, mas muito depende da disponibilidade e do preço dos fertilizantes no mercado global.”
Por enquanto, o mercado de nitrogênio vai permanecer muito apertado, disse na semana passada Bert Frost, vice-presidente sênior de vendas da CF Industries Holdings, uma grande produtora. Com a oferta limitada, deve haver alguma escassez de alimentos no final deste ano e em 2023, prevê.
A crise paralisou ou cortou a produção em dez das fábricas de fertilizantes da Europa apenas em julho, e as coisas podem piorar daqui em diante.
Segundo o CRU, o nível de capacidade de nitrogênio da região que foi reduzido — atualmente pelo menos 25% — provavelmente aumentará. Os fabricantes de fertilizantes Yara International, K+S, Borealis e Fertiglobe também alertaram recentemente sobre novas restrições de produção em toda a Europa.
(Bloomberg Mercury)