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Márcia Kafensztok, aquacultora em Tibau do Sul (RN) (Lucas Pardal/Exame)
Repórter de Agro
Publicado em 15 de agosto de 2023 às 10h31.
Última atualização em 22 de agosto de 2023 às 09h45.
Designer gráfica, modelista, nascida no Rio de Janeiro. Márcia Kafensztok não imaginava a reviravolta que a vida daria até se tornar a administradora da Primar Aquacultura, a primeira fazenda de aquacultura orgânica certificada do Brasil, localizada no Rio Grande do Norte. Na prática, isso significa que ela comanda uma das poucas fazendas de camarão e ostras que não utiliza ração na alimentação de camarões, mas sim a farta alimentação natural disponível no ambiente aquático.
"Hoje eu me considero uma designer aquacultora, porque uma competência contribui para outra", ela afirma enquanto recebe a reportagem da EXAME no sítio São Félix, em Tibau do Sul. É ali, a 70 quilômetros de Natal e ao lado da turística Praia da Pipa, que a empresária rural administra a produção de frutos do mar e um laboratório de pesquisa que, juntos, têm custos de cerca de 1 milhão de reais.
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Com uma produção anual de camarão de cerca de 40 toneladas e de 3 toneladas juvenis de ostras -- que ainda vão para o processo de engorda, como na pecuária --, o custo milionário é mantido pela comercialização do camarão, tanto para consumidores finais quanto a restaurantes de Natal e adjacências no Nordeste, como João Pessoa. No entanto, embora as vendas sejam importantes, é na pesquisa que Márcia Kafensztok aposta para o futuro da Primar.
Junto ao marido Alexandre Alter Wainberg, biólogo e idealizador da Primar, a produtora se mudou para o Rio Grande do Norte, em 1989, a fim de produzir camarões convencionais. Em 2014, foi inaugurado o laboratório de sementes de ostra, mas em 2015 o biólogo faleceu. Mesmo assim, Márcia Kafensztok contou com o apoio de funcionários e manteve as pesquisas de pé. "Só existem dois laboratórios do tipo no Brasil: na Universidade Federal de Santa Catarina e aqui”, ela afirma.
Em 2019, a empresa firmou convênio com a União Europeia, sendo uma das instituições de pesquisa em países do oceano Atlântico com interesse em pesquisar organismos aquáticos de baixo nível trófico, ou seja, algas, ostras, ouriços, entre outros. “Entramos no projeto com dois estudos de caso e um deles é a produção de sementes de ostras. Inclusive, porque as ostras nativas estão desaparecendo e podemos pesquisar como produzi-las e recuperar esta população, sem a exploração indevida”, diz Kafensztok.
Foi este convênio que possibilitou o funcionamento do laboratório da Primar durante a pandemia, cujo custo por safra é de R$ 180 mil e a safra tem duração de seis meses. No outro semestre do ano, o laboratório precisa ficar fechado por questões sanitárias. Com vigência entre 2020 e 2023, a parceria com União Europeia aportou 120 mil euros para estes quatro anos de duração. Agora, o desafio é conseguir mais recursos para que a pesquisa não pare.
Em uma sala com ambiente controlado -- lâmpadas LED, inúmeros filtros d'água e luz ultravioleta --, tanques cheios d'água com algas em tom verde, amarelo e vermelho sinalizam a diversidade das plantas subaquáticas. O local é dedicado ao estudo das microalgas, seres praticamente vistos somente em microscópio, utilizadas no laboratório para alimentação de larvas e sementes de ostras.
Graças a estas microalgas, a Primar chegou a produzir o recorde de 3,1 mil sementes de ostra na safra 2020/2021 . No ano passado, foram 1,6 mil sementes."Somos uma produção em pequena escala, mas que prioriza o cultivo orgânico e a pesquisa. O Planeta Terra é 2/3 de água, então nossa intensão é contribuir no estudo e desenvolvimento de alimentos que venham da água, só que de maneira sustentável", afirma Márcia Kafensztok.
A empresa também realiza a primeira pesquisa com macroalgas estuarinas nativas. Isto é, a intensão é entender o comportamento das plantas subaquáticas verdadeiramente brasileiras, que nascem entre o encontro da água do rio e do mar.
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"Ainda não sabemos quais as possibilidades de uso, mas as macroalgas são organismos que crescem espontaneamente. Por que não aprender a cultivá-las e usar comercialmente?”, diz a empresária ao comentar que até papel proveniente de algas está no horizonte de pesquisas.
Realizado desde 2018, o troféu já foi concedido a 45 mulheres que estão à frente de propriedades de pequeno, médio e grande porte. Para a edição de 2023, o projeto passa a contar com o apoio de cinco entidades parceiras: Embrapa, Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas (Andav), Faculdade de Tecnologia (Fatec) Pompeia, Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq) e Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia.
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O prêmio está com as inscrições abertas. Para se inscrever ou indicar uma candidata, é necessário preencher duas etapas de informações, sobre a propriedade e sobre a própria jornada de vida. Para verificar o regulamento e começar a inscrição, acesse o site premiomulheresdogro.com.br. A premiação acontece durante Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, realizado em São Paulo, nos dias 25 e 26 de outubro.
*A repórter viajou a convite da Bayer