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Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 17 de julho de 2024 às 12h39.
Última atualização em 17 de julho de 2024 às 16h45.
As exportações de cacau brasileiro caíram 35% no primeiro semestre de 2024, para 97 mil toneladas, mostram dados compilados pelo SindiDados – Campos Consultores, e divulgados pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). Os embarques de derivados de cacau ficaram praticamente estáveis, passando de 24,7 mil toneladas, para 22,6 mil toneladas.
No período analisado, as importações de amêndoas de cacau também registraram queda de 47,5%, para 22,5 mil toneladas. Para a presidente-executiva da AIPC, Anna Paula Losi, as incertezas que rondam o cenário internacional têm refletido na commodity.“Estamos passando por um período de escassez global de amêndoas de cacau. A International Cocoa Organization (ICCO) divulgou que o déficit global de amêndoas de cacau deve passar de 400 mil toneladas, impactando todos os mercados, inclusive o Brasil. Diante disso, o comércio internacional de cacau continua com muita incerteza”, afirma Losi.
Segundo Caio Santos, analista de mercado da Stonex, após quatro meses seguidos de alta, o mercado de futuros de cacau desacelerou em abril e enfrentou correções expressivas desde então, especialmente em junho. Os preços do contrato para setembro de 2024 (CCU24) em Nova York caíram 18,07% no mês passado, fechando a USD 7.729 por tonelada em 28 de junho, com um recuo igualmente significativo em Londres – a alta volatilidade tem sido uma característica do mercado de futuros de cacau, impulsionada pela baixa liquidez e incertezas crescentes.
A escassez de oferta da amêndoa de cacau refletiu na queda de 9,5% na moagem do fruto no primeiro semestre deste ano. O volume industrializado de amêndoas de cacau foi de 114,3 mil toneladas nesses seis primeiros meses de 2024, ante 126,4 mil toneladas do ano anterior.
Segundo a StoneX, a possibilidade de uma queda mais acentuada na moagem de cacau na safra 2023/24 devido aos preços elevados continua sendo um ponto de preocupação. Por outro lado, para a temporada 2024/25, a combinação de demanda mais fraca e recuperação na produção sugere um cenário de superávit no balanço entre oferta e demanda global de cacau – os desdobramentos climáticos no segundo semestre de 2024 serão cruciais para confirmar essa recuperação na oferta, diz a consultoria.
Além disso, a indústria processadora de cacau no Brasil enfrentou uma significativa queda de 37,4% no volume de amêndoas nacionais recebidas, o que somou 58,3 mil toneladas, em contraste com as 93,3 mil toneladas recebidas no mesmo período de 2023.
No segundo trimestre deste ano, a redução no volume recebido foi ainda mais acentuada, com um recuo de 39,9%, de 66.038 para 39.663 toneladas. Losi ressalta que, apesar do aumento esperado no segundo semestre deste ano, a comparação anual revela uma queda significativa que está impactando severamente a oferta de amêndoas de cacau no mercado nacional.
A Bahia foi responsável por mais de 59% do total de amêndoas de cacau recebidas pela indústria processadora no primeiro semestre de 2024, com um total de 34,5 mil toneladas, redução de 32,6% ante o mesmo intervalo do ano anterior. Enquanto isso, o Pará contribuiu com 36% do volume recebido, totalizando 21 mil toneladas, uma queda de quase 46% em relação ao primeiro semestre de 2023.
Em um cenário de menor oferta, o preço do chocolate pode ficar mais caro? Para Anna Paula Losi é necessário avaliar o contexto ao invés de cravar certezas. De acordo com a presidente-executiva, as cotações do cacau estão elevadas desde ao ano passado e, mesmo com o aumento nos preços da commodity, o consumo do chocolate mostra resiliência. Ainda, segundo ela, se houver um eventual aumento nos preços do chocolate, é preciso entender até que ponto o consumidor está disposto a pagar.
"A safra temporã, que deveria ter iniciado com um volume mais consistente em abril, atrasou em razão de questões climáticas. Fica a expectativa de que, no próximo semestre, as entradas de cacau melhorem”, diz Losi.