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China abre investigação contra importação de carne bovina — e por que isso deixa o Brasil em alerta

Medida atende a uma solicitação da Associação Chinesa de Agricultura Animal (CAAA), que representa o setor local

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, no ano passado, 37% do total das exportações de carne do país (2,2 milhões de toneladas) foram para o gigante asiático, superando os 8,2 bilhões de dólares.   (JBS/Divulgação)

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, no ano passado, 37% do total das exportações de carne do país (2,2 milhões de toneladas) foram para o gigante asiático, superando os 8,2 bilhões de dólares.   (JBS/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 27 de dezembro de 2024 às 12h37.

A China anunciou nesta sexta-feira, 27, que vai investigar as importações de carne bovina do país. O anúncio foi feito pelo Ministério do Comércio chinês (Mofcom, na sigla em inglês). A análise abrangerá o período de 1º de janeiro de 2019 a 30 de junho de 2024, segundo comunicado oficial.

A medida atende a uma solicitação da Associação Chinesa de Agricultura Animal (CAAA), que representa o setor local. A entidade alega que o aumento das importações tem gerado impactos negativos na indústria nacional, com uma relação direta entre o crescimento das compras externas e os prejuízos enfrentados pelo setor.

“A indústria pecuária da China apela fortemente às autoridades para que tomem medidas de controle sobre a carne bovina importada, protegendo os meios de subsistência e a segurança industrial dos fazendeiros locais”, afirmou a CAAA em nota.

Segundo Fernando Iglesias, analista da SAFRAS & Mercado, o recente movimento do setor pecuário chinês é mais uma demonstração do protecionismo adotado pelo país, com foco principal na suinocultura.

Atualmente, a China enfrenta uma crise no setor suinícola, passando de um cenário de escassez de oferta no início da década para o oposto: um excesso de carne suína no mercado interno. Logo, afirma Iglesias, enxugar a oferta das proteínas concorrentes é uma maneira de equilibrar o mercado.

"O objetivo é garantir a estabilidade da indústria. A intenção é ajustar a oferta e a demanda, corrigindo a rota para melhorar a dinâmica do setor. A China é o maior produtor de carne suína do mundo, responsável por metade da produção global. Esse peso significativo faz com que as estratégias do país tenham um impacto direto na formação de preços globais", diz o analista.

De acordo com o MOFCOM, o volume de carne bovina importada aumentou significativamente entre 2019 e o primeiro semestre de 2024. Em 2023, as importações foram 64,93% maiores do que em 2019, enquanto no primeiro semestre de 2024 o crescimento foi ainda mais expressivo, atingindo 106,28% em relação ao mesmo período de 2019.

O anúncio da investigação deixou os pecuaristas brasileiros em alerta, uma vez que a China é responsável por cerca de 45% das exportações de carne bovina do Brasil, o principal destino da proteína brasileira.

Entre janeiro e outubro de 2024, o Brasil exportou 1,6 milhão de toneladas de carne bovina para o mercado chinês, em equivalente carcaça (TEC), unidade usada para padronizar a pesagem, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), compilados pela consultoria SAFRAS & Mercados.

Além do Brasil, Austrália e Argentina também figuram como grandes fornecedores para a China.

Brasil e setor pecuário

Em nota, o governo brasileiro disse que a China é o principal destino das exportações brasileiras de carne bovina, "consolidando-se nos últimos anos como o maior parceiro comercial do Brasil em proteínas animais". Em 2024, as exportações brasileiras de carne bovina para o país cresceram 12,7% em relação ao mesmo período de 2023.

De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o governo brasileiro, em parceria com o setor exportador, buscará demonstrar que a carne bovina brasileira exportada para a China não prejudica a indústria local. Pelo contrário, é um importante complemento à produção chinesa.

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) disse em comunicado que está comprimetida em cooperar  com as autoridades chinesas e brasileiras e se colocou à disposição "para fornecer quaisquer esclarecimentos e participar ativamente do processo de investigação".

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