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Trecho de floresta no Pará (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Agro
Publicado em 12 de fevereiro de 2024 às 19h20.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2024 às 18h52.
O modelo de negócios da Natura ganhou espaço na revista científica Management Science, relevante título para o mundo da ciência. Por meio da análise de dados georreferenciados, os autores conseguiram mostrar que as áreas onde a empresa brasileira atua tiveram resgate de carbono e melhorias socioambientais. Mais do que isso, a atuação tem reduzido a conversão de floresta para soja e milho na Amazônia.
Leandro Pongeluppe, professor assistente da Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, afirma que "onde a Natura entrou, diminuiu-se a produção de soja, milho e commodities". O estudo, que utiliza modelos econométricos, também é assinado por Anita McGahan, professora da Rotman School of Management, da Universidade de Toronto.
Em entrevista à EXAME, Pongeluppe conta que nos municípios em que a companhia tem atividades houve preservação de aproximadamente 18 mil km2 entre 2000 e 2018 - área equivalente a quase todo o estado de Sergipe. Já outras análises mais robustas mostram que o total de área preservada pode variar entre 730 mil e 1,8 milhão de hectares de floresta, representando uma economia de cerca de 58 milhões de toneladas de carbono.
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O artigo confirmou a tese de que, ao usar frutas, nozes e sementes como ingredientes em cosméticos, xampus e sabonetes, houve internalização dos benefícios prestados pela conservação da floresta, graças a acordos implementados com comunidades tradicionais e apoiados por consumidores ecologicamente orientados.
"De um lado, há consumidores que têm preocupação ambiental e estão dispostos a pagar um preço superior pelo produto. A outra ponta são as comunidades rurais amazônicas que, muitas vezes, fazem a conservação, mas não recebiam. Onde a Natura começou a atuar, elas recebem por esse ativo", afirma o professor.
Com o estudo, os pesquisadores concluíram que a Natura conseguiu promover a conservação e a regeneração da Amazônia ao oferecer uma opção econômica viável para os pequenos produtores rurais manterem a floresta em pé, ao mesmo tempo em que ganham dinheiro com produtos renováveis nativos do bioma.
Pongeluppe cita que a presença de árvores como ucuuba, castanheira e andiroba contribui para a preservação da floresta. Já o açaí, o tucumã e o cupuaçu tem o papel de regenerar aquelas áreas que já sofreram alguma interferência e são alvo de recuperação.
“Construímos um modelo de negócios que demonstra na prática - e com comprovação científica - que é possível conciliar progresso econômico e conservação ambiental por meio do relacionamento com cadeias da sociobiodiversidade amazônica, transformando ingredientes naturais em produtos ou desenvolvendo novas soluções agrícolas regenerativas”, afirma João Paulo Ferreira, presidente da Natura e CEO de Natura &Co América Latina.
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Atualmente, a Natura se relaciona com 9.120 famílias da Amazônia, em 41 comunidades agroextrativistas. A empresa dispõe de 42 bioingredientes da sociobiodiversidade amazônica, adquiridos a partir de 85 cadeias de fornecimento.
Ao avaliar os números, Leandro Pongeluppe defende que a aptidão da floresta precisa ser levada em conta no momento em que o Brasil discute o plano de reindustrialização. Para ele, são necessárias medidas para desenvolver a bioeconomia local relacionada à 'marca Amazônia'. "Produzir televisão na Zona Franca de Manaus não faz sentido nem econômico, nem ambiental e não se beneficia das potencialidades do bioma", ele diz.
Desta forma, ele defende que o caso da Natura pode servir de exemplo para outros segmentos além do cosmético, como a gastronomia, a moda e o turismo.
"Vale a pena não incorrer em erros antigos e investir em indústrias que realmente alavanquem essas vantagens competitivas amazônicas. O caso da Natura demonstra que é possível ter esse modelo de negócio lucrativo conservando a floresta, que seja ganha-ganha, para empresas, meio ambiente e as comunidades", afirma Pongeluppe.