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Pluviômetro instalado em fazenda, para área dedicada ao plantio de soja e milho (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Agro
Publicado em 8 de janeiro de 2024 às 17h56.
Última atualização em 8 de janeiro de 2024 às 18h28.
Diante do atraso do plantio da soja, e por consequência uma colheita tardia, produtores que plantam o milho após a safra verão estão levando mais tempo que o usual para decidir se vão ou não seguir com o plantio de grão. Estimativas de mercado já apontam redução na área plantada e o reflexo é sentido na comercialização dos insumos.
A marcha de vendas de defensivos, fertilizantes e sementes em 2023/2024 é a mais lenta dos últimos três anos, segundo dados da Crosara Consultoria. Além de as incertezas com o clima contribuírem para a tomada de decisão do produtor, o preço do milho também é um fator relevante.
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Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP) mostram que a saca de 60 quilos, que era comercializada à vista por R$ 86,09 no dia 2 de janeiro de 2023, foi negociada a R$ 69,75 em 2 de janeiro de 2024 – uma redução de 19%. A diferença de preço, ainda que o produtor considere a relação de troca com os insumos, faz o empresário rural avaliar a viabilidade do plantio e esperar para se comprometer com a compra dos insumos.
O levantamento da consultoria StoneX indica que a produção de milho para segunda safra seja de 96,56 milhões de toneladas, queda de 0,8% no comparativo mensal. Mesmo para quem está certo a seguir com o plantio, a decisão de aquisição do pacote de soluções para a lavoura está sendo postergada, conforme é visto no balcão de vendas das distribuidoras.
Marcos Oliveira, diretor de Operações de Commodities da Lavoro, afirma que "o mercado de insumos ainda está atrasado". Na visão dele, o produtor está preocupado com a safra atual, principalmente em regiões que precisaram de replantio — quando é necessário plantar novamente, porque a primeira semeadura não germinou por causa do clima.
"Isso fez com que a comercialização para safrinha ficasse atrasada. Este é o momento de ele [agricultor] decidir se a janela de milho safrinha ainda é adequada, o tamanho dedicado à área ou se vai precisar migrar para outra cultura, como sorgo ou milheto", diz Oliveira.
Ele cita que a distribuidora alterou o calendário comercial para insumos da segunda safra, postergando a campanha de vendas em um mês.
O milho é uma cultura básica em todo o mundo, servindo como ingrediente fundamental em diversas indústrias, incluindo alimentos, ração animal e produção de etanol. Por isso, os preços das sementes de milho são indicadores para agricultores e as agroindústrias, influenciando a condução da lavoura e a dinâmica do comércio na cadeia produtiva, a exemplo das consequências para a pecuária.
Vários fatores contribuem para a volatilidade nos preços das sementes de milho no Brasil, incluindo condições climáticas, custos de insumos e tendências do mercado global.
Em retrospectiva, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) aponta que os custos das sementes de milho no estado aumentaram de US$ 46 por acre em 2016 para US$ 52 por acre em 2023.
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Ainda assim, de acordo com Marcos Oliveira, da Lavoro, o atual momento do mercado é de um "descolamento do preço do milho, em que Chicago está em queda e a B3, em alta". Na última sexta-feira, 5, o Cepea apontava para a saca de 60 quilos a R$ 70,47, variação positiva em 1,82% em relação ao mês anterior.
"É uma oportunidade no mercado doméstico para fazer boas relações de troca. Outro ponto que deixou o produtor inseguro para definição de área da safrinha era o preço da semente, mas agora já está de volta à paridade da série histórica e isso deve ganhar ritmo", diz.