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"O produto financeiro é algo complexo de desenvolver, e passamos anos investindo em tecnologia, testes e na digitalização do setor. Agora, estamos prontos para escalar", diz Nadege Saad, head da E-agro
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 12 de fevereiro de 2025 às 17h25.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2025 às 17h28.
Depois de movimentar R$ 2,4 bilhões em transações em 2024, o E-agro, marketplace do Bradesco voltado para o setor rural, pretende crescer 200% neste ano. Segundo a head do E-agro, Nadege Saad, nem mesmo o cenário de juros altos e a inadimplência no setor, que dá poucos sinais de arrefecimento, preocupam os planos da plataforma.
Para 2025, a estratégia será focada em três frentes principais: a entrada no mercado de pessoa jurídica (PJ), a ampliação do marketplace e a presença de novas instituições financeiras na plataforma.
"Nosso foco principal é a expansão e as parcerias. O produto financeiro é algo complexo de desenvolver, e passamos anos investindo em tecnologia, testes e na digitalização do setor. Agora, estamos prontos para escalar", afirma Saad à EXAME.
O E-agro foi criado pelo Bradesco para conectar produtores rurais a empresas que vendem máquinas, equipamentos, insumos e tecnologias para o agronegócio, além de solucionar uma das principais dores do setor: o crédito. A plataforma concorre com Broto, do Banco do Brasil, e Orbia, investida do Itaú.
Em menos de dois anos, o E-agro já soma quase 100 parceiros comerciais e mais de 52 mil clientes ativos. A meta para este ano é atingir 100 mil clientes, impulsionada pelo lançamento de novos produtos e serviços.
"Isso inclui, por exemplo, um programa de pontos, o lançamento de um cartão de crédito E-agro e a implementação de novas funcionalidades de inteligência artificial, proporcionando um atendimento mais personalizado", explica Saad.
Entre as estratégias em andamento, a entrada no mercado de Pessoa Jurídica (PJ) é a mais avançada. Inicialmente focada em médios e pequenos produtores rurais, o E-agro priorizava Pessoa Física (PF). No entanto, com o crescimento da base de usuários de médio e grande porte a plataforma expandirá sua atuação — a partir do segundo semestre — para atender essa demanda.
"Desenvolver um produto para PJ é um desafio, pois envolve questões contratuais mais complexas, como análise de contrato social e requisitos técnicos específicos. Mas essa expansão permitirá que novos clientes tenham acesso a soluções financeiras personalizadas dentro da plataforma", afirma Saad.
Além da entrada de PJs, a plataforma busca a parceria com uma nova instituição financeira para operar dentro do E-agro. Hoje, apenas o Bradesco oferece crédito no marketplace. Diante da alta demanda por crédito no agronegócio, um novo parceiro ajudará a ampliar as opções de financiamento para os produtores.
"Ainda não podemos divulgar nomes, mas essa nova instituição poderá ser um banco tradicional ou uma cooperativa financeira, tornando o E-agro ainda mais competitivo", diz Saad.
As parcerias estratégias são o terceiro ponto de atenção do E-agro. Saad adianta que a plataforma negocia com várias montadoras de equipamentos agrícolas e que alguns contratos já foram assinados para ampliar a oferta de produtos no marketplace — o anúncio deve ser feito ainda no primeiro semestre sobre as parcerias.
"Logo teremos novidades sobre novas categorias, incluindo caminhonetes e equipamentos de alto valor agregado. Além disso, há uma empresa recém-investida pelo grupo que será uma peça-chave nessa expansão", afirma Saad.
Uma das grandes preocupações do setor agrícola nesta e nas últimas safras é o crédito. Em um cenário de juros elevados, com a Selic em 13,25% ao ano e possibilidade de atingir 15% a.a., muitos agentes financeiros adotam uma postura cautelosa. Mas Saad garante que a plataforma não se assusta com a inadimplência do produtor rural.
Um levantamento exclusivo da Serasa Experian, realizado para a EXAME, mostra que o endividamento dos agricultores aumentou 1,8 ponto percentual entre o terceiro trimestre de 2021 — início da série histórica — e o terceiro trimestre de 2024, passando de 5,9% para 7,7%.
"No setor agrícola, o produtor não deixa de pagar, ele posterga o pagamento quando necessário, pois depende do financiamento para manter suas operações. Isso nos permite expandir o crédito de forma responsável, sem comprometer nem a plataforma, nem os agricultores", afirma Saad.
Os juros no E-agro variam entre 15% e 19% ao ano. A principal fonte de recursos para os empréstimos vem da captação por meio de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), além de alguns recursos da tesouraria do banco.
No ano passado, as Cédulas de Produto Rural (CPR), título de crédito utilizado no agronegócio para financiar produtores, representaram 90% da originação de crédito na plataforma, registrando um crescimento de 400% em relação a 2023. Já o Plano Safra, que inclui Custeio Agrícola e Pecuário com recursos controlados e livres, foi responsável pelos outros 10% do total originado.