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(Bayer/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 29 de outubro de 2024 às 11h55.
Última atualização em 29 de outubro de 2024 às 12h46.
A Bayer, gigante do setor de defensivos e sementes, está habituada a trabalhar com fórmulas e com processos que demandam preparo e planejamento. Essas características são, inclusive, a principal aposta do CEO da companhia no Brasil, Márcio Santos, para o futuro.
Embora os resultados específicos da operação brasileira não tenham sido divulgados, a empresa registrou um faturamento global de 24,91 bilhões de euros no primeiro semestre de 2024, marcando um crescimento de 1% em relação ao mesmo período de 2023.
Na América Latina, o desempenho foi ainda mais expressivo: a divisão agrícola da Bayer faturou 2,98 bilhões de euros, um aumento de 2,6%.
Em entrevista à EXAME, Santos destacou que, em 2024, começou a implementar um modelo de gestão 100% focado no cliente, que considera o maior ativo da empresa, e que pretende intensificar essa abordagem em 2025.
A aposta ocorre em um cenário promissor para o setor, com uma safra projetada para bater recordes. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deve colher 322,47 milhões de toneladas de grãos na temporada 2024/25.
“Implementamos um novo modelo operacional que reduz a burocracia interna e empodera as equipes regionais. Reabrimos escritórios regionais, que antes eram mais centralizados, e alocamos equipes diretamente no campo, do Norte ao Cerrado”, afirma Santos.
A gestão de Márcio Santos vem em um ano desafiador para o agronegócio brasileiro, marcado por margens reduzidas para os produtores e custos elevados. O cenário pressiona não apenas o setor, mas também empresas como a Bayer, que busca equilibrar suas finanças diante de um contexto de dívidas significativas.
Em fevereiro deste ano, a Bayer anunciou que reduziria seus dividendos em 95% como uma estratégia para reduzir o endividamento. A medida é parte do plano do CEO global Bill Anderson para reestruturar a companhia e "colocar ordem na casa".
A situação financeira da Bayer ficou mais complexa após a aquisição da Monsanto em 2018. A compra da empresa americana custou à alemã cerca de US$ 63 bilhões e trouxe para o portfólio da companhia o herbicida Roundup, um produto amplamente utilizado no agronegócio, mas que carrega controvérsias devido ao seu princípio ativo, o glifosato.
O herbicida gerou inúmeras ações judiciais nos Estados Unidos, relacionadas a supostos riscos de saúde associados ao glifosato, o que resultou em gastos judiciais e indenizações milionárias.
No entanto, as previsões para a safra 2024/25 são mais otimistas: projeções de algumas casas de análise indicam margens ligeiramente melhores e uma recuperação para o agricultor brasileiro, visão que também é compartilhada pela Bayer.
“Acreditamos que a próxima safra terá perspectivas melhores do que a anterior, o que é um sinal positivo para o setor agro”, destaca o CEO. “Apesar dos desafios climáticos, estamos confiantes de que será uma safra positiva.”
Mesmo com os recentes pedidos de recuperação judicial no setor de agronegócio, principalmente por parte de grandes distribuidoras de insumos agrícolas, a visão do CEO da Bayer, Santos, permanece otimista.
O executivo, que assumiu a operação no Brasil em janeiro deste ano, após a saída de Malu Nachreiner, avalia que essas dificuldades são pontuais e não representam uma crise generalizada no setor.
Diante desse cenário, o CEO afirma que a Bayer reavaliou suas estratégias para garantir o crescimento da empresa no Brasil e fortalecer sua posição no mercado.
“Temos três divisões no Brasil, e em algumas delas precisamos reavaliar o processo de alavancagem e ajustar nossas estratégias, tanto para os produtores quanto para os consumidores [...] Apostamos em um modelo operacional que vê essa nova realidade como uma oportunidade de crescimento ”, comenta Santos.
Outro fator que gera preocupações no setor é o clima, especialmente após os prejuízos na safra de soja 2023/24. A expectativa, no entanto, é de um novo recorde para a safra de soja, com a Conab projetando uma produção de 166,05 milhões de toneladas , consolidando a soja como a principal commodity do país.
Com foco no cliente, Santos defende que a Bayer tem um papel central nas soluções para mudança climática no agronegócio. Segundo ele, a aposta da empresa no Brasil é a agricultura regenerativa, setor em que a Bayer busca liderar com inovações – mais de 6,5 bilhões de euros foram investidos em P&D globalmente nos últimos três anos.
“Desenvolvemos tecnologias para auxiliar o produtor a adotar práticas mais sustentáveis , como a calculadora de pegada de carbono. Nossa meta é aproximar ainda mais a Bayer do produtor, investindo em uma equipe capacitada para levar soluções de alto valor direto ao campo”, destaca o CEO.