Colheita no campo: o agronegócio fechou o ano com a maior participação no PIB desde 2004 (Alexis Prappas/Exame)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 30 de março de 2025 às 06h03.
Última atualização em 30 de março de 2025 às 09h57.
O plantio direto, uma prática agrícola antiga, ganhou força a partir da década de 1940, com o desenvolvimento de tecnologias para o controle de plantas daninhas, como o herbicida Paraquat. Segundo a Embrapa, a técnica revolucionou a agricultura moderna ao dispensar o preparo prévio do solo, aumentando a eficiência e a sustentabilidade das lavouras em larga escala.
No Brasil, o plantio direto se consolidou graças ao pioneirismo do agricultor Herbert Arnold Bartz, que introduziu a prática em plantações de milho e arroz.
Bartz nasceu em Rio do Sul (SC), filho de imigrantes germânicos, e foi criado na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Em entrevistas, relatou que, na noite de seu oitavo aniversário, a cidade de Dresden, onde estava, foi bombardeada.
Abrigado com outras crianças em um porão, foi salvo pelas águas jogadas por adultos, o que ajudou a enfrentar o intenso calor do ataque.
De volta ao Brasil, em 1960, a família se fixou na Fazenda Rhenânia, em Rolândia, no Paraná, onde trabalhavam com plantio de milho e arroz. No entanto, logo percebeu que, no sistema convencional de produção, os recursos seriam insuficientes para sustentar a família.
Os problemas com chuvas tropicais irregulares — que vinham em excesso após longos períodos de estiagem — lavavam as lavouras, carregavam as sementes e provocavam a erosão.
Segundo a Secretaria de Agricultura do Paraná, a possibilidade de vender as terras foi discutida pela família. Mas Bartz sugeriu que seu pai arrendasse a propriedade para ele, prometendo buscar uma solução mais apropriada para trabalhar a terra nas condições brasileiras.
Na busca por uma solução, o agricultor viajou para a Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, onde conheceu a técnica do "No-Tillage" (plantio sem revolvimento) na propriedade do agricultor Harry Young Jr., em Kentucky.
Em 1972, após importar a mesma máquina semeadora não agressiva que Young utilizava, Bartz adotou o método, que no Brasil ficou conhecido como plantio direto.
O plantio direto consiste no mínimo ou na ausência de revolvimento do solo, na manutenção dos restos culturais da safra anterior e na rotação de culturas. Segundo a Embrapa, a prática só se tornou viável em áreas extensivas de lavoura com o desenvolvimento da tecnologia de controle químico de plantas daninhas.
O pioneirismo nessa linha tecnológica é creditado à Imperial Chemical Industries - ICI, da Inglaterra, que lançou no mercado, em 1961, o herbicida Paraquat, de ação total e contato.
Com a técnica, Bartz obteve resultados positivos na produtividade da soja, na conservação do solo e na economia com o uso reduzido de maquinário.
Na época, inclusive, por causa desconfiança inicial, Bartz foi chamado de "alemão louco" e sua produção foi apreendida pela Polícia Federal. No entanto, rapidamente ficou claro que a adoção da técnica garantia maior produtividade.
A fama de Bartz se espalhou, e sua propriedade ganhou visibilidade. Outros produtores começaram a visitá-la e perceberam que o solo estava mais vivo.
Segundo a Embrapa, nos anos 1990, o Sistema Plantio Direto (SPD) se torna uma ferramenta essencial da agricultura conservacionista, promovendo a conservação do solo e a estabilidade dos sistemas agrícolas. A prática superou as limitações dos anos 1980, quando modelos de produção e semeadoras inadequadas dificultavam sua adoção.
Não demorou para que o sistema ganhasse adeptos, e Bartz começou a percorrer o Brasil e outros países para proferir palestras. Hoje, mais de 50 anos depois da implantação no Brasil, o plantio direto, fruto da visão de futuro de Herbert Bartz, já se espalhou pela América do Sul.
Bartz morreu em 2021, aos 83 anos, de complicações de pneumonia.