EXAME Agro

Apoio:

LOGO TIM 500X313

A aposta da BrasilAgro na safra 2024/25 — após o prejuízo do segundo trimestre fiscal de 2025

Desempenho foi afetado pela redução na comercialização de milho (-69%) e pecuária (-69%), que compensaram os avanços nos segmentos de soja (+44%) e cana-de-açúcar (+82%)

Fazenda Alto Taquari (MT) (Divulgação)

Fazenda Alto Taquari (MT) (Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 6 de fevereiro de 2025 às 20h23.

Última atualização em 6 de fevereiro de 2025 às 20h42.

A BrasilAgro, companhia do setor agropecuário, está otimista com a possibilidade de safra recorde em 2024/25. Segundo o CEO da companhia, André Guillaumon, o clima tem favorecido as plantações de soja, ainda que a colheita esteja atrasada em alguns lugares por causa do excesso de chuvas em janeiro.

"A atual temporada está bem encaminhada, apesar dos problemas cambiais e logísticos que podemos ter mais adiante", diz Guillaumon. O Brasil deve colher 322,4 milhões de toneladas de grãos na atual safra, segundo projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O otimismo do CEO vem após a empresa divulgar o resultado do segundo trimestre fiscal de 2025 nesta quinta-feira, 6. No período, a empresa reportou um prejuízo líquido de R$ 19,6 milhões.

A receita líquida operacional totalizou R$ 153,1 milhões, um crescimento de 4% em relação ao mesmo período do ano anterior. O desempenho foi afetado pela redução na comercialização de milho (-69%) e pecuária (-69%), que compensaram os avanços nos segmentos de soja (+44%) e cana-de-açúcar (+82%).

O Ebitda ajustado foi positivo em R$ 31 milhões, revertendo o saldo negativo de R$ 12,6 milhões registrado no mesmo período do ano fiscal anterior. No entanto, a margem líquida operacional ficou negativa em 13%, refletindo o aumento dos custos e a menor rentabilidade no trimestre.

Segundo a BrasilAgro, a maior pressão sobre os resultados veio da redução nas vendas de milho, que passaram de 64,7 mil toneladas no segundo trimestre de 2024 para 18,2 mil toneladas no 2T25, uma queda de 72% no volume comercializado — o recuo foi consequência da menor área plantada e de problemas climáticos.

Por outro lado, o segmento de cana-de-açúcar apresentou forte crescimento, com a receita atingindo R$ 63,4 milhões, uma alta de 82% em relação ao mesmo período do ano anterior.

O volume vendido subiu 11%, totalizando 349,5 mil toneladas, enquanto o preço médio do Açúcar Total Recuperável (ATR) avançou 64%, chegando a R$ 181 por tonelada  o ATR é um indicador usado na indústria sucroenergética para medir a quantidade de açúcar que pode ser extraída da cana-de-açúcar e convertida em produtos como açúcar e etanol.

No acumulado dos seis primeiros meses do ano fiscal, a BrasilAgro registrou um lucro líquido de R$ 77,8 milhões, com margem líquida de 12%. O Ebitda ajustado somou R$ 200,4 milhões, um salto expressivo em relação aos R$ 10,8 milhões registrados no mesmo período do ano anterior.

O resultado reflete uma receita líquida de R$ 607,7 milhões, composta por R$ 129,3 milhões em venda de fazendas e R$ 478,4 milhões em vendas de produtos agrícolas.

Segundo o CEO, o impacto não foi maior porque a empresa manteve sua estratégia de hedge cambial e de commodities.“Esperávamos um dólar a R$ 5,30, mas o mercado atingiu R$ 6,20 no final de dezembro, gerando uma marcação negativa no período”, diz ele.

Dólar alto e logística

O câmbio segue como um dos principais fatores de atenção da BrasilAgro na atual safra. Diante da possibilidade de novas altas do dólar, a estratégia de hedge tem sido fundamental para garantir margens mais previsíveis, diz o CEO. A longo prazo, no entanto, a expectativa é de queda nas cotações da moeda norte-americana.

No caso da soja, 67% da safra 2024/25 já foi vendida a um câmbio médio de R$ 5,43 por dólar, proporcionando segurança na receita.

No segmento de milho, a BrasilAgro aumentará a área plantada, impulsionada pela melhoria na margem de contribuição. “O milho está mais previsível no mercado brasileiro, e temos conseguido fechar negócios futuros com usinas de etanol, garantindo uma margem atrativa”, afirma Guillaumon.

A produção de cana-de-açúcar registrou uma recuperação, com um crescimento de 5,5% nos resultados, impulsionado pela maior concentração de açúcar e pelo aumento da produtividade. “Houve uma pequena recuperação, com a produtividade 2,5% maior e um aumento de 3,5% na concentração de açúcar", diz o CEO.

Além da variação cambial, os desafios logísticos também preocupam a empresa, principalmente por causa do atraso na colheita da soja, causado pelo excesso de chuvas em janeiro. O problema pode gerar dificuldades no transporte e no escoamento da produção.

“O Mato Grosso já deveria estar com 18% a 19% da soja colhida, mas estamos entre 10% e 12%, o que cria um represamento logístico”, diz Guillaumon.

Os atrasos podem gerar um acúmulo de cargas nos portos e centros de distribuição, aumentando a demanda por caminhões e elevando os custos do frete, além de pressionar a capacidade de armazenamento.

Para minimizar os impactos, a BrasilAgro adotou estratégias como o uso de silos próprios onde há estrutura disponível, a venda antecipada de soja física principalmente em locais sem armazenagem e o armazenamento em silobags em regiões de colheita seca, como na região do Matopiba, que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

A empresa também travou contratos de frete antecipadamente para reduzir impactos da alta do dólar sobre os custos logísticos. “Com o dólar mais alto, antecipamos negociações para garantir fretes mais baratos em dólares e minimizar riscos de encarecimento do transporte”, diz o CEO.

Apesar dessas medidas, a companhia reconhece que os desafios logísticos ainda podem impactar o ritmo das exportações e os custos operacionais nos próximos meses.

Outro ponto de atenção é a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 13,25% ao ano, com a possibilidade de atingir 15% a.a., segundo o Boletim Focus do Banco Central (BC).

Os juros elevados, segundo o CEO, têm dificultado a aquisição de novas terras. No entanto, Guillaumon vê oportunidades surgindo devido às dificuldades financeiras de outras empresas.

“Quando a taxa de juros está alta, a liquidez do mercado imobiliário diminui, mas surgem oportunidades com estresses financeiros. [Foi assim com alguns dos nossos melhores negócios no passado]”, afirma Guillaumon.

Acompanhe tudo sobre:BrasilAgroAgronegócioAgriculturaSojaTerrasMilhoCana de açúcar

Mais de EXAME Agro

Nova cepa do vírus da gripe aviária é detectada em gado nos EUA

Com preços nas alturas, 100 mil ovos são roubados na Pensilvânia. Prejuízo é de US$ 40 mil

Cargill entra — de vez — no setor de biocombustíveis e assume controle total da SJC Bioenergia

Amaggi anuncia nova diretoria e sucessão interna no comando