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2 ‘Brasis’ em 14 horas: como é viajar da Faria Lima à Amazônia

OPINIÃO | Apesar das distâncias, o aumento dos critérios ESG na agropecuária pode ser o denominador comum para cidade e rural falarem a mesma língua

equilíbrio entre mercado internacional e floresta que pode aproximar Faria Lima e Amazônia, quebrando barreiras para além das distâncias (Leandro Fonseca/Exame)

equilíbrio entre mercado internacional e floresta que pode aproximar Faria Lima e Amazônia, quebrando barreiras para além das distâncias (Leandro Fonseca/Exame)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 5 de outubro de 2023 às 07h06.

Última atualização em 6 de outubro de 2023 às 20h10.

Novo Repartimento (PA) - Era 4 da manhã e marcava 17 graus no termômetro da avenida Cidade Jardim, em frente ao Parque do Povo, em São Paulo. Do lado oposto, fica a redação da EXAME, mas o destino da reportagem é a muitos quilômetros dali. Da Faria Lima à Amazônia. De São Paulo ao Pará. De Guarulhos a Marabá. Não importa a escolha das palavras para mensurar as distâncias, o Brasil é gigante, sui generis e os deslocamentos internos podem ser tão longos quanto ir para a Europa.

Para visitar comunidades de assentados que trabalham com pecuária na Amazônia, viajei junto a um grupo de jornalistas na terça-feira, 3, durante um percurso que certamente dura muito mais do que a própria visita às propriedades rurais. Ao todo, considerando a saída na Zona Oeste paulista, foram 14 horas de viagem. De Guarulhos a Belo Horizonte, em Minas Gerais, com outra escala em Belém do Pará para, então, seguir para Marabá e pegar a estrada para Novo Repartimento, município paraense de onde escrevo.

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Essa é a realidade, e o primeiro desafio de tudo – inclusive do jornalismo – quando o assunto é compreender a visão de mundo, pela ótica de quem lá vive. Mas o esforço vale a pena. A cada escala um sotaque diferente e uma história que, quanto mais para o interior, mais se cruza com a agropecuária. Alguém que planta, cria, é funcionário de fazenda, faz arrendamento, é cooperado, sucessora familiar, agrônomo de multinacional, entre tantos outros rostos do setor que é gigantesco e invisível aos olhos de quem está há muitos quilômetros de distância, sobretudo nas capitais.

Grande parte dos 140 quilômetros que percorremos por terra estava asfaltada, mas a poeira vermelha subiu em alguns trechos da viagem. A paisagem mista entre floresta, pasto, gado, rios, árvores frutíferas e o restante da diversidade da mata é muito diferente da paisagem que se vê no Cerrado, uma realidade que reflete a época em que o governo federal incentivava a abertura de terras no Centro-Oeste à população.

Hoje, o discurso é diferente, pede o pé no freio. A discussão global pautada pelo Green Deal ou Pacto Ecológico Europeu para não comprar produtos provenientes de áreas desmatadas reduz o protagonismo do Código Florestal, quando o assunto é poder ou não abrir novas áreas, independente do bioma. Como um top down, a decisão tomada no Hemisfério Norte reflete aqui no Sul e, tal comportamento sobre a origem da matéria-prima pode se estender a outros importadores como Estados Unidos e China.

Isso significa que quem produz alimento, grãos e fibra aqui no Brasil precisa se adequar o quanto antes às exigências ESG se não quiser ficar fora do mercado, afinal, a expectativa é que a norma europeia entre em vigência já no próximo ano. Do balcão da loja de insumos à trava no preço de saca de grãos, as decisões no campo são e serão cada vez mais pautadas com base naquilo que for agregar valor, como uma certificação Round Table on Responsible Soy Association (RTRS) – que por si só já é internacional.

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Todo este contexto inclui estender o diálogo entre comunidades ribeirinhas, assentados, agricultores, pecuaristas, remanescentes de quilombo, governos, entes públicos e privados. É este equilíbrio entre mercado internacional e floresta que pode aproximar Faria Lima e Amazônia, quebrando barreiras para além das 14 horas de viagem.

*A jornalista viajou a convite do Fundo JBS pela Amazônia

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